Círculo de Fogo (Pacific Rim)

Círculo de Fogo (Pacific Rim)

O cineasta mexicano Guillermo del Toro é o responsável pelas adaptações de HellBoy para o cinema, pelo belo e tocante filme O Labirinto do Fauno e chegou a ser contratado para dirigir a trilogia O Hobbit, o que acabou não acontecendo. Mas este Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), talvez seja um ponto de reafirmação em sua carreira, ao investir em uma homenagem à estética dos “monstros japoneses” e criar, potencialmente, uma nova franquia cinematográfica.

O filme não perde tempo com preâmbulos e com uma narração em off logo em seu início já apresenta a situação: há uma fissão nas placas tectônicas no fundo do oceano, cria-se um portal dimensional e enormes criaturas, chamadas de kaiju que significa monstro em japonês, passam a invadir e atacar a Terra. A humanidade vê-se ameaçada e constrói, é claro, seus próprios monstros (tagline do filme) para combater os invasores. O que seriam esses monstros? Robôs gigantes, chamados jaegers que significa caçadores em alemão, cujos movimentos são controlados por dois pilotos que, no processo, tem que passar por um processo de conexão neuronal que faz com que compartilhem pensamentos e memórias! E dá-lhe pancadaria entre robôs e monstros pelas cidades, no mar e por ai afora! O filme é tão dinâmico em sua narrativa que em 10 minutos já estamos acompanhando o primeiro combate entre um jaeger e um kaiju, e tudo isso antes dos créditos iniciais!

Evidentemente o filme não ganharia 4 pipocas se Del Toro não tivesse tido cuidado em embalar seus efeitos visuais deslumbrantes, direção de arte inteligente (notem como, depois de anos de combate, a existência dos monstros invasores passa a fazer parte da cultura humana e é integrada ao seu dia-a-dia em diversos exemplos no decorrer do filme) e suas lutas muito bem elaboradas em um roteiro que desenvolvesse bem a trama e fizesse com que nos importássemos com os personagens. O diretor também é esperto ao fazer um produto global, fazendo os ataques ocorrerem não apenas nos EUA mas por todo o mundo e criando um time de robôs-gigantes que representam também uma ação global de defesa, com um robô chinês, um australiano e um russo, além do heroico e central americano.

Temos vários elementos humanos na história para nos envolvermos. Há o valente Raleigh (Charles Hunnan), que perdeu seu irmão em combate e vê-se refugiado e longe das batalhas até ser recrutado novamente para uma missão especial (Rambo 2, alguém?). Há o conflito da família Hansen, com o pai severo e o filho arrogante, ambos buscando salvar a humanidade e encontrar o respeito familiar e a admiração entre pai e filho. Há a dupla de cientistas malucos e esquisitos. Há o comandante Pentecost (vivido com energia e algum exagero por Idris Elba, o Heimdall de Thor), austero e determinado em livrar a terra dos monstros, nem que isso custe passar por cima de ordens superiores. Mas a história mais tocante e que é a força motriz do filme é a de Mako. A pequena e frágil garota japonesa que torna-se uma valente e aguerrida lutadora em busca de vingança contra a morte de seus pais.

Apesar de muita gente comparar o filme a Transformers, há diferenças substanciais a favor de Círculo de Fogo. Os robôs não são humanizados… eles são pilotados por humanos! Sua destruição implica, em geral, na morte de pessoas e, com isso, nosso envolvimento com o filme é diferente. Além disso, gostei mais dos efeitos especiais deste filme, onde os robôs são muito realistas, com movimentos “lentos”, ranhuras, amassados! E a coreografia das lutas é excelente e não conta com os cortes exagerados e que tornam quase impossível de acompanhar o que está acontecendo, como nos filmes de Michael Bay. E ver um robô-gigante caminhando pela cidade, carregando um enorme cargueiro que servirá de “taco de baseball” para atingir um monstro é para fazer qualquer fã de seriados japoneses delirar. Eu, que nem sou tão fã assim, curti demais e recomendo!

Para quem já viu, ficam algumas perguntas: será que havia um sistema de recuperação inteligente na programação do controle neural dos jaegers? Pois se cada lado do robô era controlado por um dos pilotos então como, sozinho, Raleigh conseguiu fazê-lo andar até o Alaska para ser resgatado? O lado “amputado” deveria ter ficado paralisado! E num filme com fendas no espaço-tempo, monstros alienígenas e robôs gigantes, o troféu de situação mais absurda vai para a conexão neural do dr. Geiszler com um “enxerto” de alienígena. Foi dose…

Publicado originalmente aqui.

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