Filmes de lá para cá

De lá para cá assisti 16 filmes. Confesso que imaginava ter sido muito menos. Eis a lista (na ordem em que foram assistidos) e suas respectivas cotações:

Splice (3/5) conta a estória de casal de cientistas trabalha na “elaboração” de um ser que misture DNAs de diversas criaturas. A princípio a motivação é buscar novos remédios mas logo a fascinação pelo poder de “Deus” e a impossibilidade de engravidarem envereda a estória outra direção. O maior elogio que posso fazer ao filme – e que me levou a classificá-lo com 3 estrelas – é a ousadia do roteiro. ** SPOILER ** Afinal fazer com que a “filha” faça sexo com o pai para depois ter uma transformação de sexo e estuprar a própria mãe não é para qualquer estômago. No mínimo, não evita a polêmica. 😉

Gran Torino (2/5), do veterano Clint Eastwood, conta a estória de Walt, veterano de guerra que se vê viúvo e solitário em um bairro tomado por imigrantes orientais. A escalada de violência no bairro e a interação de Walt com a família que habita a casa ao lado, em especial os jovens Thao e Sue, ele um boboca que passa a ter Walt como tutor e ela uma menina decidida que ensina lições de solidariedade e humanidade ao coração endurecido de Walt. Esquemático, previsível mas bem realizado. Não é original nem em seu conceito e nem em seu final batido mas também não ofende.

Eu esperava mais do Fantástico Sr. Raposo (3/5), longa de Wes Anderson e com grande elenco de dubladores que além de emprestarem suas vozes emprestam todo seu carisma e charme (George Clooney em especial) aos bonecos animatrônicos nesta, tecnicamente, fantástica animação em stop-motion. Raposo se limita a uma vida suburbana de trabalhador com esposa e filhos mas, na verdade, se ressente de ter abandonado a vida de gatuno e a adrenalina de roubar galinhas. O filme tem vários subtextos passando pela aceitação do filho junto ao pai, comprometimento x egoísmo, a luta contra o “sistema” e nisso exaltando o poder da união entre as diferenças. A meu ver, os personagens (Raposo, os 3 fazendeiros, o sobrinho esportista, etc.) são melhores que o filme em si.

Crepúsculo (1/5) atendeu completamente as minhas expectativas. Resumindo: o filme é uma bosta! É impressionante todo o sucesso em torno desta estória e todas as críticas e respostas às críticas e etc. que tem gerado. Não merece. Imagino que o livro possa ser melhor do que o filme – em geral são – mas nem Anne Rice poderia converter essa estória em algo que desse prazer de se ler. E olha que de vampiros afetados e cheios de dilemas ela entende.

Tudo pode dar Certo (3/5), do Woody Allen é um filme-cabeça, um filme conceito. E, portanto, está sujeito às mais diversas interpretações e é natural que provoque reações do tipo “ame ou odeie”. O personagem quebra a “janela de ficção” que é a tela de cinema e conversa com o espectador. Isso, para muitos, já pode estragar o filme por completo. A Dri, por exemplo, não gosta desse tipo de estrutura. Por outro lado, como Pablo Villaça bem disse em sua crítica, isso ajuda a compor o personagem principal, que parece sempre “saber mais” do que seus colegas de cena. Mas trata-se de um filme-cabeça por carregar consigo todos os questionamentos existenciais habituais de Allen mas, neste caso, tornando-os o centro da narrativa. Infelizmente, acaba ficando um pouco cansativo mas não deixa de ser interessante – e muito mais recompensador do que a maioria das opções cinematográficas recentes.


Brilho de Uma Paixão (Bright Star) (3/5), conta a estória da paixão que se dá entre a feminista (e revolucionária) Frances Brawne e o poeta John Keats na Inglaterra vitoriana. A entrega da atriz Abbie Cornish é fascinante mas ao mesmo tempo em que se realça qualidades do filme também destaca o seu pior defeito: o intérprete do poeta Keats que não conseguiu me transmitir paixão ou interesse pelo personagem. E quando estamos falando daquele que é tido como um dos maiores poetas da língua inglesa isso é algo sério e que comprometeu bastante meu envolvimento com o filme. Jane Campion, diretora de O Piano, é bastante delicada e as imagens são arrebatadoras.

Sobre Príncipe da Pérsia (3/5) vale dizer que eu assisti o filme no voo de volta à Europa e que o critério que uso para escolher o filme a ser visto no avião é o seguinte: qual filme eu não me importo de ver em uma tela minúscula, com imagem e som de baixa qualidade e com congelamentos de tela a cada turbulência ou serviço de bordo? E para meu espanto o filme inspirado no jogo de computador no qual eu era viciado é muito divertido! Tem várias cenas de ação inspirados no jogo original e em suas sequências mas consegue trazer um bom enredo – simplista, mas eficaz – um vilão telegrafado, personagens secundários interessantes e um ritmo parecido com os dos bons e velhos filmes da Sessão da Tarde nos anos 80 como, heresia, Indiana Jones e cia.

Bombom: El Perro (2/5) é um filme argentino sobre um homem de meia-idade, desempregado que em meio a suas andanças em busca de oportunidades de trabalho ou de vender facas artesanais que ele mesmo prepara acaba sendo recompensado por sua generosidade com um belo exemplar de cão de raça que ganha destaque em exibições de cães. O final é, de certa forma, surpreendente e embala bem este filme singelo e muito bem interpretado mas sem nada de muito original. E este quesito é muito importante para mim… gosto de ser surpreendido por novas idéias, novos conceitos, maneiras inusitadas de recontar o que nos rodeia ou maneiras novas de rodear nossas vidas. Este filme marcou a sessão inaugural do Cine Clube – ainda sem nome, ao menos que eu saiba – na casa da Marie-France. Acho que o cine clube merecia uma estréia mais glamourosa… talvez Missão Impossível, com Tom Cruise, fosse uma melhor pedida…

Cela 211 (3/5) foi assistido em espanhol, na casa do Vicente. Trata-se de um filme interessante sobre o primeiro dia de trabalho de um policial, Juan Oliver, em uma penitenciária exatamente quando ocorre uma rebelião e em meio à confusão o policial acaba sendo confundido com um novo detento e fica infiltrado – e com papel cada vez mais relevante – junto aos rebeldes e seu líder Malamadre. O filme carrega o tom em várias situações e a partir de um certo momento certas ações de alguns personagens – inclusive Juan – ficam inverossímeis e comprometem o resultado final. Mas a trama é envolvente, os atores são muito bons e a película prende a atenção em um clima de suspense crescente.

Superbad! É Hoje. (4/5) é sensacional! Novo representante das comédias adolescentes que narram a missão de um garoto e sua turma em perder a virgindade, ao estilo Porky’s e, mais recentemente, a série American Pie. Mas a adaptação ao mundo moderno, os diálogos rápidos e cheios de cinismo e, principalmente, McLovin e a dupla de policiais alçam este filme a um outro patamar. O trio central é ótimo, as piadas se encaixam, as situações são absurdas mas sempre engraçadas. Enfim, hilário!

Motoqueiro Fantasma (2/5) é muito fraco. OK, Eva Mendes é bonita e ver Peter Fonda como o diabo e Sam Elliott como um motoqueiro cowboy foi interessante mas nada disso salva o filme da obviedade e do marasmo. O início até que é interessante ao narrar a vida do jovem Johnny Blaze e seu pai em seus números de acrobacias com motocicletas mas os vilões são, veja só, os vilões do filme. Wes Bentley não consegue empregar nenhum carisma ao retratar o “filho rebelde” do demônio que quer destronar o pai e seus 4 cavaleiros (cada um representando os 4 elementos) apenas cumprem o papel de fazer o filme se movimentar com o motoqueiro enfrentando um a um até a batalha final. Boas imagens, bons efeitos, péssimo elenco (no geral) e roteiro burocrático. Resultado? Filme sem dizer a que veio…

Além desses vi também A Origem (5/5), A Hora do Pesadelo – o remake (1/5), Amor Sem Escalas (3/5), Valsa com Bashir (4/5) e Educação (4/5) e todos merecerão um post a parte com mais detalhes.

Para finalizar, vou brincar de formar pares rapidamente, com a primeira conexão que vier à cabeça:
A Hora do Pesadelo com A Origem (mundo dos sonhos), Bombom el Perro e Cela 211 (sulamericanos), Amor Sem Escalas e O Fantástico Sr. Raposo (George Clooney), Crepúsculo e Superbad! (adolescentes), Brilho de Uma Paixão e Valsa com Bashir (um olhar poético sobre a vida e seus dilemas), Príncipe da Pérsia e Motoqueiro Fantasma (aventura com intenção de divertir), Gran Torino e Educação (interação entre personagens muda profundamente o modo de verem o mundo).

Agora, fazer um par com Splice e Tudo Pode dar Certo não é tarefa fácil… fica para a próxima.

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