A Cura de Schopenhauer

Antes de falar deste livro, um breve comentário sobre “Quando Nietzsche Chorou” (QNC), obra mais famosa do mesmo autor e que eu li no ano passado. Me causou um profundo impacto, principalmente pela forma como questiona a forma como vivemos, nossas escolhas, nosso comodismo. A frase retórica “o que você faria se não estive consumido” – que não é utilizada exatamente desta forma – teve muito impacto em mim, bem como a terapia proposta por Nietzsche para seu “terapeuta” e a teoria do eterno retorno, de viver uma vida que você não se importaria em repetir por toda a eternidade, mas levando isso em conta a cada pequeno gesto, a cada decisão, a cada ato.

Porém, apesar da força das idéias do livro, em termos literários não se pode dizer que QNC seja um primor. Apesar da densidade dos temas abordados, a leitura era fácil por dois motivos: o autor não tinha pretensão estilística e buscava uma escrita fácil (de aeroporto, como dizem) e, talvez já supondo que o leitor não estivesse tão atento, o recurso de repetir tudo o que é dito três vezes, uma vez no encontro entre os dois personagens principais e depois nos pequenos resumos que eles faziam, em suas anotações.

A Cura de Schopenhauer (ACS) também traz o nome de um famoso filósofo em seu título e as semelhanças não param por aí. Também aqui, os pensamentos de um filósofo são utilizados como terapia. Contudo, há diferenças importantes. Nietzsche era um personagem do outro livro e a psicanálise estava apenas engatinhando, sendo testada, na trama de QNC. Já em ACS, o filósofo-título é apenas referenciado por um dos personagens, a trama se dá, quase que integralmente, em uma sala de terapia em grupo e a estória se passa no mundo contemporâneo.

Nos dois casos, é interessante observar como o sexo e os relacionamentos são os assuntos predominantes em terapias. Nada de surpreendente, é claro. De fato, nada mais complexo e perturbador. Será que ninguém procura um terapeuta por que acha que não tem uma boa caligrafia?

Em A Cura de Schopenhauer conhecemos um pouco mais do pensamento deste austríaco/alemão, pessimista, misantropo, solitário e genial. Não fui tão tocado pelos seus pensamentos quanto pelos de Nietzsche. Se esses livros do Yalom serviram para alguma coisa, foi para me apresentar um bom resumo e de maneira bastante acessível sobre os pensamentos destes dois filósofos e também por apresentar com detalhes, principalmente em ACS, a dinâmica de uma terapia.

O enredo é simples: acompanhamos as sessões de uma terapia de grupo e a dinâmica entre estes personagens. Tem o homem viril, rude e explosivo, a mulher bonita que não se sente interessante, o homem com memória fotográfica mas dificuldade de expressar seus sentimentos, a mulher que se sente rejeitada por não atender os padrões de beleza, enfim, um cenário típico de problemas que vão além da caligrafia. E temos Philip, que curou um comportamento obsessivo do passado – depois de ter procurado por diversos tipos de tratamento – através do pensamento de Schopenhauer. E o terapeuta, Julius, que havia tratado Philip sem sucesso no passado e que agora descobre-se com doença terminal e tendo que conduzir o grupo e, em especial, dando-se mais uma chance de agir positivamente por Philip.

Novamente, não vejo muito mérito literário, mas trata-se de leitura que prende a atenção e instrui, como manda um bom best-seller.

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