Dan Brown e a consciência coletiva
O livro mais recente que terminei de ler é de novo de Dan Brown, o que não me deixa tão orgulhoso. Mas Brown e seus romances de aventura, grudentos, engenhosos e de leitura fácil, são uma boa escolha quando o objetivo é passar o tempo. Mas eu não esperava que eu fosse passar tanto tempo lendo este livro. Minha falta de dedicação à leitura, nos tempos recentes, fez com que O Símbolo Perdido fosse consumido homeopaticamente durante uns bons meses.
Eu comecei a ler este livro dentro das barracas durante a expedição do Kilimanjaro – e era para ter terminado por lá, mas o cansaço diário fazia com que eu dedicasse muito menos tempo do que eu imaginei ao meu Kindle. Voltei ao Brasil faltando quase a metade e ai a coisa se arrastou até agora, voltando de Foz – assunto que ainda tem que ser tema de um post próprio – quando finalmente consegui concluir a leitura.
Do ponto de vista literário, mais do mesmo, Robert Langdon sendo um herói, envolvido com símbolos e conspirações para todos os lados, reviravoltas e mais reviravoltas ao bom estilo do autor de Código da Vinci, repetindo de novo a fórmula que o consagrou. Obra pop, desta vez ambientada em Washington e tendo, de novo, a maçonaria e seus rituais como principal alvo. Mas, por fora da aventura, da ação e dos inúmeros absurdos, o livro aborda um tema que eu tenho ouvido e discutido bastante recentemente, com amigos que realmente estudam e acreditam no assunto, a consciência coletiva e/ou a capacidade do cérebro humano de afetar ou modificar a realidade física, o estado das coisas. A ciência noética e também o misticismo quântico.
Seria fascinante se o pensamento humano pudesse proporcionar comunicação a distância sem a dependência da tecnologia, telepatia evita smartphones e operadores de telefonia e seus call-centers infernais. Cura através do pensamento direcionado ou telecinésia também viriam bem a calhar. E há quem acredite que é possível. Acredita-se ainda no salto quântico, que é o poder exponencial que pode ser alcançado quando um grupo maior de inteligências está conectado ao mesmo objetivo, potencializando assim a energia e fazendo com que o resultado seja alcançado muito mais facilmente.
Um experimento neste sentido que me foi descrito é o de que em uma ilha ensinou-se uma população de macacos a usar uma nova ferramenta para alcançar seu alimento. Cada indivíduo era ensinado, um a um. A partir de um determinado número de indivíduos que já tinham passado pelo aprendizado, notou-se algo bastante peculiar. Tanto os outros indivíduos da ilha que ainda não haviam passado pelo processo de ensino quanto outros grupos da mesma espécie, em outros locais e sem nenhum contato com estes primeiros, já aprendeu sem necessidade de ser ensinado. Esse tipo de fenômeno é a consciência coletiva, que poderia proporcionar uma iluminação coletiva a partir de um ensinamento passado pouco a pouco, individualmente e em pequenos grupos. O salto quântico refere-se exatamente a esse limiar em que um grupo menor de repente se transforma no todo.
Eu tenho dificuldades, treinado no método científico, em simplesmente acreditar nestes relatos ou teorias. Teria que me aprofundar seja para acreditar seja para refutar. Mas não deixa de ser um conceito fascinante. Incomoda, no entanto, o uso do termo “física quântica”, parte fundamental da física moderna e que, ainda que pareça algo místico com seus gatos de Schrodinger que estão vivos e mortos ao mesmo tempo, são teorias aceitas pela comunidade científica atual e de maneira geral, enquanto estas novas frentes ainda encontram aceitação apenas entre seus seguidores.
Voltando ao livro de Brown, uma cientista noética e um grão-mestre maçom estão envolvidos em um grande plano que pode fazer com que o apocalipse caia sobre o mundo, mas neste caso o apocalipse não é uma grande destruição, mas sim a grande revelação, que seriam os segredos do poder da mente humana finalmente alcançado a todos nós, liberando-nos da escuridão. É fascinante, no livro, o uso de fatos e símbolos reais da cidade de Washington e de personagens históricos americanos para embalar a trama, como Brown já havia feito e com sucesso em O Código da Vinci.
Mas o tema em si do poder da mente humana foi muito melhor trabalhado e com fundo humanista (apesar da também desnecessária embalagem de thriller) em Sense8, série fantástica da Netflix idealizada pelos irmãos Wachowski, de Matrix, que debaterei por aqui em breve. Quanto ao Símbolo Perdido, eu recomendo a leitura para quem curte misticismo, simbologia, cultos e segredos. É divertido a seu jeito.
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