Música com personalidade e a crise da novidade

Dois temas. Começo pelo segundo. Acredito e noto no comportamento dos próximos que vivemos uma crise da busca pela novidade, em termos de consumo de arte ou entretenimento. Explico, essa crise ocorre quando o que nos sacia é sempre o novo. É evidente que o conceito de qualidade não se perde nessa busca, mas ele é relativizado.

A idéia é mais ou menos a seguinte: não importa se Pato Fu lançou 6 álbuns memoráveis até 2002, com relação aos quais eu tenho o maior apreço. Eu continuo buscando coisas novas, sempre, ainda que não encontre nada tão bom quanto as músicas e músicos que já conhecia e apreciava. E isso ocorre de tal forma que eu consigo passar 10 anos sem ouvir um álbum tão bom quanto Televisão de Cachorro, que eu retomei agora também como parte do processo de “transposição de mídia” dos meus CDs. Eventualmente, em rodas de amigos, ouvia novamente “Antes que Seja Tarde” ou “Canção para Você viver mais”, mas já havia muito que não ouvia as ótimas “Nunca Diga”, “Licitação” e “Boa Noite”.

E aqui é o ponto do primeiro tema. Música com personalidade. Não é legal quando pelo timbre do vocalista ou pelo estilo do riff de guitarra ou pela harmonia dos diferentes elementos no arranjo você consegue identificar o artista, com poucos segundos de música, ainda que talvez seja a sua primeira audição? Como não reconhecer uma música do Smiths/Morrissey? Ou do Pearl Jam, ainda que hajam imitações? Como não reconhecer uma música do Pato Fu, na sua boa fase? Das que citei acima, as duas últimas, com certeza absoluta, só poderiam ter sido compostas por esta banda. Seria impossível conceber que outro conjunto de pessoas pudesse fazer músicas como aquelas, é algo único, identificável sem ser previsível, contagiante por sua natureza única e diversa, é o resultado da combinação artística de pessoas atuando em sua plenitude e isso não pode ser reproduzido ao acaso.

Diferente de tantas e tantas novidades que assumem rótulos que servem para embalar mas também para limitar, enlatar e, assim, mesmificar.

Nada contra as novidades, também vivo em busca delas e diversas são as vezes em que elas me trazem de volta um sorriso ao rosto. Só não acho justo deixar de visitar amigos tão caros e queridos apenas por esta necessidade de novas aventuras. Espero ser mais fiel a partir de agora.

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