Non-Sense Floreado Sobre o Tempo…

A vida é feita de ciclos. Apesar de sua natureza essencialmente linear, que nos leva do nascimento até a morte, passando entre um evento e o outro pelo que denominamos vida. O assunto que me levou a esfarelar aqui novos pensamentos é simples: a passagem do tempo e o efeito disso sobre nós.

Muitos dizem que o tempo cura tudo. Acho que entendo o sentido desse ditado e tendo a concordar com ele. Em essência, a ideia é que não importa o tamanho de um problema ou de uma mágoa, se apenas esperarmos tempo suficiente, vai cicatrizar, vai se resolver. Será que vai mesmo? OK, até acho que em geral sim, mas isso é devido ao fato de não deixarmos o tempo esperando, nós agimos. Ou então, vemos o resultado da ação de outros. E, naturalmente, nos transformamos. A cada instante, a cada segundo passado novos pensamentos se formam, novas interações se criam e cada vez mais nos afastamos do ponto de partida. Nunca entramos no mesmo rio duas vezes. Tanto o rio como nós mesmos, seremos outros na ocasião do novo encontro.

Mas a passagem do tempo tem me incomodado. Não devido ao seu suposto poder curativo. Muito pelo contrário, na verdade. Lembro-me do passado com constância, apesar de saber que ele é apenas um conceito e não uma realidade, apenas um amontoado de memórias e não mais do que isso. Olho para esse amontoado e para os registros das ações passadas que perduram até hoje. A vida é cíclica. Repetimos erros, repetimos decisões, cada novo ano é mais e mais parecido com o anterior. Deparo-me com um texto que escrevi há 12 anos e que me parece tão presente. Reproduzo-o abaixo, o seu título é “O Mar e a Borboleta“.

À medida que o tempo passa, aumenta a minha tristeza

Minha felicidade está vinculada ao tempo

Porém devo reconsiderar pois o tempo afasta

Ao mesmo tempo em que aproxima

Olho no espelho, meus dentes estão trincados…

Eu me lembro exatamente o que sentia quando escrevi esse texto. E percebo como são sentimentos parecidos com os vários com que convivo atualmente. O conceito principal daquele texto, e agora também deste, é o tempo que oprime. É quando olhamos para o futuro esperando que um determinado evento ocorra e a angústia e ansiedade naturais que isso causa. Ao olhar para esse evento futuro, o tempo não é amigo, nem é gentil. Cada hora, cada minuto, cada pequeno segundo tornam-se um peso colocado milimetricamente sobre o nosso peito. Porém, como diz a segunda parte do “poema”, supondo que o evento vá acontecer, essas mesmas horas, minutos e segundos são nossos aliados, nos aproximando do tão desejado momento.

Passado, presente, futuro. Abstrações que nos permitem uma organização e uma sensação de controle do tempo. Podemos medi-lo, podemos precisá-lo. Mas temos que ter em mente que ele continuará a ser apenas um conceito. Uma abstração. Apenas o presente é real e é dele que temos que extrair e é nele que precisamos dar nosso melhor. Das doenças mentais relacionadas ao tempo nenhuma é mais grave do que viver no passado ou no futuro.

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