O Esporte Ensina
Dificuldades, decisões dificeis, problemas de relacionamento, questionamentos e dúvidas sobre a sua própria capacidade. Problemas diversos e que afetam, uma hora ou outra, a todos nós que estamos vivos e, além disso, resolvemos viver.
Muitas vezes a arte ensina. As próprias relações humanas e nossa experiência ensinam. Errar e observar ensina.
Mas este texto é para falar de como o esporte também ensina. Todos os problemas que citei no primeiro parágrafo deste texto foram vividos, ao mesmo tempo, nos últimos dois meses pela seleção brasileira feminina de vôlei e sua comissão técnica. E eles viveram uma trajetória de garra e superação que culminaram na vitória contra os EUA na final da Olímpiada de Londres.
Antes da consagração, um pouco de história. Em 2008, após uma longa seqüência de quase sucessos vividos pelas gerações anteriores, o Brasil finalmente se consagrou campeão olímpico no vôlei feminino em Pequim. Naturalmente, agora nas olímpiadas seguintes, muita cobrança acompanhou a chegada da equipe à Inglaterra.
O problema é que essa nova geração enfrentava problemas e não vinha jogando em alto nível. Algumas novas jogadoras não se encaixaram bem na equipe – como a levantadora Fabíola, apesar de serem queridas pelo grupo. Resultado: uma decisão difícil foi tomada elo treinador, cortando a jogadora. Crise. Mari, atacante e símbolo do time campeão em 2008 reclama publicamente da decisão e também acaba afastada. Foi uma decisão difícil mas que se mostrou acertada, pois o objetivo do grupo que acreditou que aquela era a melhor decisão se fechou, se fortaleceu.
Mas não foi fácil, o Brasil perdeu dois jogos na fase inicial e foi quase eliminado, se classificando apenas no último jogo e ajudado, ironicamente, por uma vitória da seleção americana. Aparentemente, isso não adiantaria muito, afinal iriamos jogar as quartas-de-final contra a Rússia, equipe tradicional e que conta com a melhor jogadora do mundo e que havia vencido a outra chave.
Esse Brasil e Rússia foi o jogo mais emocionante que já vi. Não foi fácil, como não poderia ser, mas a superação e a garra da equipe brasileira foram comoventes. As russas ganharam o primeiro e o quarto sets e o Brasil conseguiu vencer o segundo e o quarto. No set decisivo as russas tiveram a chance de fechar por 6 vezes! E o Brasil salvou as 6 vezes para conseguir fechar e, inesperadamente, passar para as semifinais. Foi épico, sem exageros.
Nas semifinais um jogo que o Brasil fez ficar fácil contra as japonesas e venceu por 3 sets a zero. Para ir para a final e enfrentar as americanas, número 1 do ranking mundial e que haviam vencido as brasileiras em Londres e também nas finais do campeonato mundial, no ano passado.
Para complicar, o primeiro set da final foi para dar ainda mais moral à equipe dos Estados Unidos. Vitória fácil por 25 a 11. Era como se o Brasil não tivesse entrado em quadra. Mas que nada, numa história de garra e superação, elas venceram os 3 sets seguintes e se impuseram diante das favoritas, jogando muito! Sheilla, que foi infalivel contra as russas, voltou a jogar bem. Fabi como líbera defendendo muito e a capitã Fabiana bloqueando demais. Jaqueline foi decisiva, virando todas. Além de ser musa! A levantadora Dani Lins, que acabou assumindo a vaga decorrente do corte de Fabíola e só se integrou à equipe titular no decorrer dos jogos, bem como a ponteira Fernanda Garay, também se destacaram na final. Uma equipe unida, coesa, vibrante. Legítimas campeãs, que superaram as dificuldades, as críticas e souberam se unir em torno de um objetivo comum.
Sim, o Esporte ensina. E como foi bom assistir à dedicação desse time e a alegria de vê-las vencendo fazendo o que amam. Parabéns, guerreiras. Parabéns, bicampeãs.
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