Para todos nós que me habitamos

PARA TODOS NÓS QUE ME HABITAMOS

Em meu castelo eu tenho uma sala
Em que habitam os mais belos cisnes
Alimento-os com pedaços de mim
Esperando que um dia
Eles sejam meus sonhos.

Cada um deles é e não foi para sempre
O que eu deixei de ser em cada fatia.

Alimentei a fera que sorri
com pedaços de meu corpo ensangüentado.
Mas não mais.

A minha voz calada não mais quer ser ouvida
A minha solidão sofrida não mais quer ser solidária
A minha emoção ridícula não mais quer ser engraçada
A minha devoção não quer mais nada.

Penso se pensar é correto
Sinto que sentir é injusto.
Mas não mais.

Não estou pronto para a realidade
Apesar da já avançada idade
Quando voltarei a ser inconseqüente?
Quando voltarei a ser feliz?

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Esfarelado