Um jogo sem tabuleiro

Um jogo sem tabuleiro

Sou um fã de Star Wars. Adoro jogos de tabuleiro. É óbvio portanto que me empolguei com o jogo X-Wing, que nos coloca como pilotos de espaçonaves da Rebelião ou do Império, podendo comandar X-Wings, Tie Fighters ou mesmo a fantástica sucata voadora Millenium Falcon. Tem vários videos no Youtube explicando como o jogo funciona, segue um deles como referência.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=LUvZx5gNlSk&w=560&h=315]

Pois bem, uma coisa que encontrei fascinante neste jogo é justamente o fato de podermos usar o espaço com liberdade. Não há um tabuleiro fixo, com casas pré-determinando onde o espaço pode ser ocupado. Podemos ir e vir, avançar ou recuar. Quando experimentei jogar pela primeira vez, a minha mesa redonda de 1,20×1,20m foi o espaço sideral durante algumas horas e a missão, plenamente cumprida, de destruir o Império, desviar de meteoros, posicionar a mira e atacar o inimigo ocorreu de forma que eu nunca havia experimentado em jogos de tabuleiro – justamente porque não há um tabuleiro.

Como é de se esperar neste espaço, o texto aqui não é apenas sobre X-Wings soltando raios de laser em direção a Tie Fighters batendo em retiradas, nem sobre as habilidades de renomados pilotos como Luke Skywalker, Han Solo ou Darth Vader. O ponto que me faz transformar a experiência de ter jogado com os amigos em mais um farelo é justamente a reflexão de como a liberdade e as regras mais soltas quanto a movimentação, quase que um livre-arbítrio da jogatina, transformaram a experiência do jogo em algo mais. Ao não impor direção ou espaços possíveis de deslocamentos e fazer com que as decisões de um afetem imediatamente e de forma irreversível a decisão já tomada pelo outro a dinâmica do jogo torna-se mais imprevisível e excitante.

 

Não é sempre assim? Não estamos sempre prontos para ocupar qualquer espaço em nossas próprias vidas, ainda que em boa parte dela a gente se atenha a regras pré-estabelecidas – muitas vezes por outras pessoas ou pela sociedade na qual vivemos? Com um pouco mais do espírito rebelde podemos correr mais riscos, ter mais atitude, ocupar novos espaços, movimentar-nos com mais liberdade, dizer mais o que realmente pensamos, mirar melhor e destruir as estrelas da morte que sempre cruzam nossos caminhos.

Podemos também, em contrapartida, nos atermos aos tabuleiros que por vezes a vida nos impõe. Ficamos no mesmo emprego ainda que já tenhamos perdido o tesão pelo trabalho. Mantemos a mesma rotina ainda que ela já não nos motive a levantar da cama. Mantemos relacionamentos que já não fazem bem. Jogamos os mesmos dados viciados, esperando por outros resultados ou por alguém que chegue e mude a cara do jogo que estamos jogando, sem interesse, antes que a partida acabe e a gente tenha perdido. Este jogo e este tabuleiro são muito traiçoeiros e é importante lermos com clareza as regras para descobrirmos o óbvio: não há tabuleiros e somos jogadores muito mais poderosos e versáteis do que imaginamos. Não podemos é jogar este jogo de olhos vendados e tropeçar pelo tabuleiro inexistente.

Assim como no jogo de miniaturas, quero fazer com que minhas naves cruzem as fronteiras espaciais, passe por cinturões de asteroides e coloque minhas habilidades como piloto à prova, para que assim eu tente cumprir com a missão da minha vida. Aqui, nesta galáxia muito distante… e sem tabuleiros para me guiar.

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Paulo Farelos

Deixando alguns farelos para seguir meu caminho… com essa frase, inspirada em conto infantil essa frase marcou o início do projeto Farelos de Pensamento. Este espaço agora não guarda mais apenas pensamentos soltos mas também todos os meus textos que antes estavam espalhados por aí, em meu outro blog, no qual não vou mais escrever e de onde, aos poucos, vou puxar todo o conteúdo também para cá. Mas aqui também vão ter minhas resenhas para filmes e trailers, as minhas crônicas e textos, meus podcasts, meus vídeos. Assim, como meus interesses culturais passeiam pela literatura e os quadrinhos e se concentram com mais força em música e cinema pops, ainda que o circuito de arte também me desperte interesse, então os farelos de pensamentos passaram a ser farelos de qualquer coisa, pois vivo muito de blá-blá-blás e outras amenidades diversas. Um farelo para cada um desses momentos. E o caminho segue. E há tantos caminhos possíveis.