Dia dos Pais
Hoje é o dia dos pais. O meu pai se foi cedo demais. Ontem alguém me pediu para eu falar dele – algo que eu, em geral, não faço. Acompanhei bem de perto os últimos anos de meu pai em sua luta contra a doença que acabou por vencê-lo. Foi um período em que aprendi muito, pois ele era muito mais do que um professor de matemática. E a vida, naquele período em que eu vivi dos meus 12 aos meus 16 anos, também ajudou a me ensinar. Mas, quando ele se foi, não foi tão penoso quanto poderia ser pois a partida dele veio junto com o alívio de não vê-lo mais sofrendo. Sim, foram anos de uma luta sofrida, que castigava o corpo físico e, ao mesmo tempo, minava o psicológico. Mas se a partida foi dura e, certamente, fechou-me para portas que desconheço, reconheço que o sofrimento que sinto vem pela ausência de meu pai em vários momentos posteriores, momentos que eu não pude compartilhar com ele. A saudade dói, disse você. Sim, ela dói. A saudade e a dor da ausência. Com meu pai, tenho hoje uma relação de ausência involuntária e de saudade. Queria ter compartilhado com ele tantos momentos. E sei que a minha irmã também queria. E sei que também seus amigos queriam. Pois bem, pai, hoje, no dia dos pais, deixo aqui um farelo de meus pensamentos para dizer que sinto sua falta e que você faz falta.
Hoje foi um dia dos pais estranho. Ontem foi triste e hoje eu chorei. Mas não chorei por meu pai, nem por sua ausência. Chorei por mim mesmo. Talvez hoje eu tenha vivido um reencontro comigo, algo íntimo. Logo depois do almoço coloquei os fones de ouvido e sai. Tinha um destino em mente mas meus passos não me levaram para lá. Caminhei, dei voltas, cansei as pernas. Cheguei próximo a locais que pensava querer visitar, visitei lugares que não estavam previstos e, o tempo todo, sozinho. Solitário em pensamentos que iam e vinham e inundado em lágrimas muito minhas. Em uma sensação estranha de que eu mesmo estava gritando para mim, mas eu não conseguia entender o que eu falava apesar de receber a mensagem. Passei o dia entre irritado e confuso. Aos poucos fui voltando ao meu centro. Fiz uma medição no Google Maps. Hoje eu andei 14km. Completei o dia na Concha Acústica do Parque das Nações Indígenas ouvindo Sofia Basso, Jerry Espíndola e Pétalas de Pixe. O fato de eu ter saído e de, talvez, ter me encontrado não indica que eu estava a 14km de mim mesmo e nem que a música era o meu destino.
Também quero dizer que ontem eu perguntei a um conhecido: “Por que as pessoas se afastam? Isso é natural?” e ouvi como resposta “Não, isso não é natural. Mas é social, talvez cultural. É a forma que somos ensinados a fazer”. As vezes as pessoas ou aqueles que gostamos se afastam – como quando, simplesmente, decidem não ter mais contato com você. As vezes é a vida que os afasta, como foi com meu pai, mas não só com ele. E é só isso o que eu tenho a dizer.
0 Seja o primeiro a curtir esse farelo