A Imposição do Sorriso
Hoje resolvi escrever sobre uma sensação e uma percepção que não são novas em mim e nem originais enquanto tema. Hoje resolvi escrever sobre o que chamei de “a imposição do sorriso”.
Nada melhor do que começar dando um exemplo do assunto. Esses dias não andei 100%. Estava meio chateado com sei lá o quê. Acontece. E não acontece só comigo, não é verdade? Pois bem, quando a gente acorda assim, meio sem querer muito papo, meio de cara amarrada, meio amuado, meio sem graça… é justamente aí que manifesta-se, por parte do seu entorno mais próximo, a tal imposição do sorriso. Ela começa com um singelo “o que houve? Tá tudo bem?”, dito quando notam que não está. De acordo com a intimidade da pessoa e com o nosso estado de espírito podemos adotar o educado “Nada, tudo bem. Só dormi meio mal” ou assumir o dia ruim e dizer “É, não estou muito bem mesmo”. Até ai, nada de mais, tudo dentro do esperado.
Mas, não sei se acontece só comigo, é difícil para os interlocutores próximos, aqueles que de fato se importam conosco, simplesmente aceitarem que estamos vivendo um mau dia. Aceitarem e respeitarem o nosso direito de estarmos mal! Não, pelo contrário. Ou eles simplesmente dizem “Vai dar tudo certo” ou um “Sorria, o dia tá lindo”, sem se aprofundarem e, portanto, sem entender por quê, para nós, as coisas não estão com tanta cara de que vão se encaixar e nem o sol que brilha parece especialmente atraente. Ou ainda, alternativamente, tentam se aprofundar com os “o que houve?” ou “Você quer falar?”, que em muitos casos são bem-vindos e ajudam e, em outros, colaboram apenas para transtornar ainda mais, pois você quer, simplesmente, viver o seu dia ruim em paz, feliz e contente!
Confesso que, em dias ruins, fico tão irritadiço que já briguei com as pessoas simplesmente por que elas queriam me ver bem! É claro que depois sinto-me mal por isso. Mas, ao mesmo tempo, reflito se é justo que tenhamos que estar sempre bem, sempre ostentando um sorriso no rosto e um bom humor impecável. Se é certo que todos nós temos nossos momentos azedos é certo também que deveríamos ser mais tolerantes com os momentos azedos dos outros. E tolerante não é indiferente. Nem tampouco indiscreto. Se somos amigos e a pessoa quer se abrir, quer papear, está pronta para falar de seu problema e tentar resolvê-lo, ótimo! Nada mais natural do que cumprirmos nosso papel de amigos, darmos ombros e ouvidos e tentarmos controlar o pH do nosso camarada! Mas cabe também a sensibilidade para, quando não for este o caso, darmos o espaço necessário para que todo o azedume seja vivido, sem cutucadas, sem indiretas, sem personalização de culpa (“ah, eu acho que foi algo que eu fiz…”). Simplesmente, deixar passar, respeitar e tolerar o direito de estarmos infelizes que todos nós temos.
Termino desejando uma boa infelicidade a todos os que acordaram com o pé esquerdo! Até a próxima!
Publicado originalmente aqui.
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