Agir ou reagir. Tudo ao mesmo tempo agora…

Em certos filmes de ação, podemos ver claramente que o mocinho leva uma vantagem intelectual gigantesca contra os vilões já que esses, por vezes muito mais numerosos, preferem atacar o herói individualmente, um por vez, pacientemente aguardando que seus comparsas sejam um a um derrotados e dando, assim, vantagem ao bravo guerreiro. Mais uma vez, a distância entre ficção e realidade se faz.

Nas nossas lutas diárias contra inimigos por vezes mais perversos e numerosos do que vilões de filmes policiais ou de artes marciais, muitas vezes somos soterrados por socos e pontapés que nos atingem sem que consigamos sequer levantar a cabeça para ver quem, exatamente, está nos batendo com mais força. De onde veio a primeira pedrada? Quem desferiu o golpe que me sangrou a boca? Quem, traiçoeiramente, aplicou-me rasteira que me levou ao chão? Serão todos esses inimigos fortes e indestrutíveis, como parecem, ou trata-se apenas de uma falta de organização da minha parte, falta de capacidade de encará-los nos olhos, de impor um respeito que eu, como herói dessa história, deveria ter? O problema é que essa história chamada vida não tem protagonistas, não há nenhum motivo para que o roteiro colabore comigo. Eu mesmo tenho que encontrar as brechas na história, escrevê-la a meu favor, redirecionar o fluxo dos eventos, levantar-me e olhar nos olhos de todos eles, afastando-os, abraçando-os ou derrotando-os. Para cada um, uma dose de ação medida e adaptada para a situação.

Neste momento não me sinto jogado ao chão, como já me senti há poucos meses. Ao menos consegui colocar-me de pé. Isso já é um grande diferencial, permite-me saber quem ataca. Permite-me ver quais golpes tem um impacto mais profundo. Permite-me reconhecer algumas das minhas diversas falhas. Apatia é uma. Acomodação é outra. Sim, vivi um estado letárgico por um tempo, me vi um tanto sem rumo, seguindo em frente sem questionamentos. Não mais, sinto que a passividade não trabalha, em geral, a meu favor. Deixar as coisas acontecerem não te traz garantia alguma de que elas acontecerão da melhor forma para você. Agir, por vezes, é necessário. Se não for assim, podemos nos ver seqüestrados por outras necessidades, outras vontades, outros sentimentos. Garanto, esse é um golpe dolorido, um inimigo poderoso. Vale o combate!

O que fazer com o futuro? Ele se apresenta, com seus horizontes de possibilidades, e cabe a mim, e apenas a mim, decidir o que eu espero dele. Não há como delegar, neste caso. É preciso agir e não apenas reagir. Novamente, é tudo ao mesmo tempo agora. Um furacão de eventos girando em torno de mim, fico no centro observando toda a confusão, todas as cadeiras e outros objetos voando em volta de mim, a poeira, o vento forte. Esse furacão é tão grande que cabe o mundo inteiro dentro dele. Qualquer lugar é alcançável se eu me deixar levar na direção certa. Basta perder o medo de me jogar no furacão, viver suas possibilidades, encarar a poeira e o vento com os olhos abertos.

Agir ou reagir? Já experimentei os dois. Há casos e casos. A sabedoria, acredito eu, está em saber dosar. Reajo até ter elementos e certezas suficientes para agir. Por vezes, para coletar certezas e elementos, as ações já se fazem necessárias. Agir, geralmente, é mais arriscado pois há embutida na ação uma intenção. Quem reage pode sempre se esconder desta decisão, expurgar os resultados dos seus atos indicando que a causa primária não foi sua intenção. Já quem age não. Quem age arrisca-se, joga-se no vento da tempestade e vive, com todos os erros e acertos que decorrem disso.

Mas a pergunta que me ocorre atualmente é: até que ponto toda ação não é sempre uma reação? Ainda que indiretamente, é impossível não dizer que tudo é reação. Somos um somatório, uma integral e estamos sempre, no limite, tomando decisões. Uma após a outra e assim seguindo, desde que nascemos. Não há como dissociar o peso dos eventos que compõem nossa vida (essa vida única que vivemos) de cada decisão que tomamos e, assim, estamos sempre reagindo ao que somos e vivemos até então. Mas é claro que esses efeitos permanentes e indiretos podem ser negligenciados em certos casos e podemos, claramente, indicar que estamos reagindo a algo muito mais específico. Uma palavra dita, um soco no estômago, um choro inesperado de alguém querido, uma ausência ou uma presença, um reencontro, um novo encontro, uma mágoa ou um amor revelados. São diversos os possíveis exemplos de algo que pode nos despertar uma reação específica, que podemos identificar como reação e não ação.

Atualmente, nesta fase de tudo ao mesmo tempo agora, sei que preciso agir. E para agir com mais chances de acerto, preciso identificar os principais eventos aos quais reagir. Ação é reação. Venham, meus caros inimigos, mas venham um a um, com todo o respeito.

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