Alice & Coraline

Se a lista de filmes anterior era tão heterogênea que não dava para traçar qualquer paralelo entre os filmes, Coraline e Alice no País das Maravilhas são irmãos. É interessante que eu tenha visto os dois filmes no mesmo dia e de maneira absolutamente casual.
E sem sombra de dúvidas o melhor dos dois filmes é Coraline e o Mundo Secreto, adaptado da obra de Neil Gaiman. Muito mais criativo, inventivo e envolvente do que o espetáculo visual elaborado por Tim Burton. E olha que assisti Coraline nas 15 polegadas de meu computador enquanto a experiência de ver Alice teve a mágica da tela grande e do escurinho do cinema acrescidos de efeitos 3D. Importante registrar que comparo apenas os dois filmes e não as suas versões literárias. O filme Coraline é encantador mas é difícil julgar os seus méritos literários uma vez que não li o livro de Gaiman – expoente da literatura fantástica atual, mas já tive o prazer de ler o clássico da língua inglesa que é o texto de Lewis Carroll e gosto muito de seu surrealismo e de seu simbolismo, exatamente o que mais me atrai em termos artísticos. Seja cinema, seja literatura. Deixe-me concentrar então apenas nos dois filmes.

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland) (2/5)
Dir. Tim Burton.
Eu gosto muito dos filmes de Tim Burton e também do ator Johnny Depp. Os últimos filmes da parceria entre os dois, no entanto, não tem sido os melhores e estou certo de que a necessidade de aumentar a participação do Chapeleiro Maluco, papel de Depp, na nova adaptação de Alice no País das Maravilhas (e a sua sequência literária, Através dos Espelhos) para os cinemas está por trás de alguns dos problemas do filme. Nesta versão, Alice já é uma adolescente e volta ao mundo mágico de Wonderland para reencontrar os personagens clássicos: o Gato de Cherishe, o Coelho de Colete, o já mencionado Chapeleiro, a lagarta que fuma narguilé e a inevitável Rainha de Copas (Rainha Vermelha) e seu exército de cartas. Apesar de estarem todos lá o filme não tem nem o encanto do texto original e seus enigmas e surrealismo e nem a magia da adaptação clássica da animação da Disney. É tudo muito chato e aborrecido e acompanhamos os personagens e o desenrolar de suas estórias com desinteresse. Não li “Através do Espelho”, também usado como base da adaptação, mas o filme tenta dar um aspecto mais épico, de luta pelo poder, de aventura, de batalhas que não combina em nada com o universo do primeiro livro. Por vezes me pareceu um filme da série Crônicas de Nárnia, o que está longe de ser um elogio. Afinal, esta trama é igual à do primeiro filme da série Narnia: adolescente indo a um mundo mágico para cumprir o seu destino de destituir a rainha má e devolver o reino à rainha boa, sendo ajudado por personagens excêntricos e animais falantes. Helena Bonham Carter salva todas as cenas em que aparece, divertidissima. É com certeza o melhor do filme. Depp não faz feio mas tem muitas cenas que não acrescentam muito à trama. Visualmente o filme é muito bom mas não está a serviço de uma boa estória e mesmo os bons personagens se perdem em meio à trama burocrática. Mesmo a metáfora visual do amadurecimento da personagem principal é extremamente óbvio e ainda assim martelado na cena final do filme. Burton já fez melhor.

Coraline e o Mundo Secreto (4/5)
Dir. Henry Selick.
Coraline é uma menina curiosa, falante e cheia de imaginação. Quando seus pais se mudam para uma casa em uma pequena vila para poderem se dedicar à escrita de um manual de jardinagem, Coraline se vê sozinha e sem a atenção necessária dos pais até que encontra uma passagem secreta para um mundo secreto, muito próximo ao real mas em que as pessoas tem botões no lugar dos olhos, mas são muito mais atenciosos e agradáveis do que suas versões com olhos normais. Lá, Coraline encontra sua “outra mãe” que prepara deliciosos jantares e a leva pessoalmente para deitar-se para dormir e seu “outro pai” que planta um jardim com plantas em uma disposição que formam o rosto de Coraline e a leva para ver a sua obra em um aparelho voador. Nada mais encantador. Coraline passa a frequentar cada vez mais esse mundo alternativo para buscar um pouco do afeto e cuidados que os seus pais verdadeiros não tem mais tempo a dispensar. Mas esse mundo pode também se tornar sombrio e assustador quando sua “outra mãe” propõe que ela passe a morar lá para sempre e, para isso, basta substituir seus olhos por botões… O paralelo com Alice é óbvio, ambas passam por um portal para um mundo mágico no qual desempenham um papel central e convivem com personagens mágicos ou especiais. Coraline também conta com a ajuda de um gato, sábio e corajoso, que habita os dois mundos mas apenas no mundo secreto é capaz de se expressar por meio de voz. Mas o filme de Selick (diretor do neo-clássico O Estranho Mundo de Jack, produzido por Tim Burton, outro vínculo entre os dois filmes) é muito mais encantador e envolvente. Filmado com a técnica de stop-motion e com uma animação soberba e personagens carismáticos nos vemos torcendo pela heroína e nos importamos até mesmo com personagens secundários da trama, todos muito bem desenvolvidos. Recomendo!

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