Arrow – 1a temporada completa

Arrow – 1a temporada completa

Eu já havia escrito sobre os 6 primeiros episódios da primeira temporada de Arrow. Reli agora o texto e era um bom resumo do que os 23 episódios como um todo apresentariam. Não houveram grandes surpresas ou revelações. Tudo mais ou menos dentro do esperado, com as idas e vindas óbvias… exceto pela Ilha (de Lost) onde Queen se transformou no herói Arqueiro Verde (ou no Capuz/Vigilante, como ele é chamado durante toda a temporada). Para ler este resumo inicial, clique aqui.

Este texto contém spoilers da primeira temporada, mas isso não é nada de mais, afinal ela foi ao ar em 2012!

Primeiro, o veredito. Arrow é uma boa série, 3 pipocas em 5. Poderia ser bem melhor, pode melhorar bastante nas próximas temporadas, principalmente agora que os personagens e seus conflitos já estão estabelecidos, há mais contexto e histórico dos relacionamentos entre eles que podem ser melhor explorados.

O arco dessa primeira temporada trata do plano de Malcolm Merlyn, pai de Tommy Merlin, para destruir o bairro Glades, de baixa renda e altos índices de corrupção, violência e delinquência e onde sua esposa, anos atrás, foi assaltada, baleada e deixada para morrer na rua. O plano consistia em financiar uma empresa, Unidac, que estava construindo um equipamento capaz de induzir abalos sísmicos. A ideia é criar um terremoto artificial que vai ao mesmo tempo varrer o “mal” da cidade e ainda dar uma aparência divina, ou ao menos, natural para a coisa, inocentando automaticamente os figurões envolvidos.

O melhor episódio desta temporada inaugural, para mim, foi o 18o, Salvation, no qual um outro vigilante, autointitulado O Salvador, começa a fazer justiça com as próprias mãos, sequestrando e julgando pessoas que falharam com a cidade. É interessante pois mostra a verdadeira face do próprio “herói” da série, Oliver Queen, que afinal não é tão diferente assim do tal Salvador. De certa forma, o episódio rima com a temporada toda, ao servir como contraponto aos planos de Malcolm, já que a ideia do Salvador é eliminar pessoas que falharam com o Glades – como juízes e empresários corruptos – justamente o oposto do que fora orquestrado por Merlyn. E também é nesse episódio que o metrô de Starling City é apresentado – o que terá relevância para os episódios finais.

Foram deixados vários pontos soltos que devem ser retomados e evoluídos nas próximas temporadas. Terá a irmã de Laurel, Sara, também sobrevivido ao naufrágio, como suspeita a sua mãe? Será que Helena, a Caçadora, que sabe o segredo de Oliver e é doidinha para assassinar o próprio pai vai voltar para aprontar das suas? E a vingança pessoal de Diggle contra Floyd Lawton, o assassino de seu irmão, codinome Pistoleiro, terá ela um fim? E a Tríade, vai se organizar para derrotar o Vigilante que tem feito tão mal a seus negócios?

Malcolm é, no seriado, o Arqueiro Negro, arquirrival de Queen. Pelo que li, nas HQs ele é Tommy Merlyn, que aqui é seu filho e um personagem com o arco mais interessante da temporada. Começa como o riquinho vazio que só queria curtir a vida e gastar os milhões do pai, vai para o homem apaixonado capaz de tudo para tornar-se digno do amor e respeito de Laurel, àquele que tem escrúpulos e dignidade – reprovando mas não entregando o segredo do amigo e, finalmente, mostrando-se heroico ao salvar a vida de sua amada durante o terremoto do último episódio. Ah, sim, apesar de todos os esforços e até do reforço do Detetive Lance, o plano do Arqueiro Negro funciona parcialmente e uma boa parte dos Glades é atingida… curiosamente a parte em que não estavam os personagens da trama. O único que de fato perde a vida, aparentemente, é o pobre Tommy.

De preparativos para o futuro temos também a introdução do personagem Roy Harper, interesse romântico da atormentada e controversa Thea Queen, que primeiro a rouba, depois a salva, depois é salvo por Queen… e fica obcecado por ele. No futuro, será um sidekick do herói, que em sua missão de tornar-se o Batman vai encontrar seu próprio Roy, quer dizer Robin…

No aspecto dos romances, Helena chega a perguntar a Oliver, em determinado momento: “afinal, quantas namoradas você tem?”. E é uma boa pergunta. Era óbvio que Oliver estava jurado a Laurel desde o início, e todo o relacionamento dela com Tommy estava obviamente fadado ao fracasso. Não sei como algo tão telegrafado pode ser emocionante – e não é. Mas durante a temporada Oliver aproveita a solteirice momentânea e se envolve com a própria Helena, com a policial McKenna (que se despede pateticamente da série após ser atacada quando estava prestes a descobrir que o namorado era o próprio Vigilante) e com Laurel, além de Sara e do interesse que ele desperta em Felicity Smoak, a loirinha geek que em meio às suas frases sempre descoladas ou inapropriadas, volta e meia escorrega relevando seu real interesse em Oliver.

Outro personagem defenestrado e mal aproveitado é o padrasto de Oliver, Walter Steele. Ele é um cara bacana e tal, mas sejamos honestos. Walter só está na série pois ela precisa ter 23 episódios. Então ele aparece, desconfia de Moira, pede investigação sobre desvios de dinheiro, descobre o barco, é sequestrado, é resgatado e… vai embora. Os “enchimentos” (ou fillers, no jargão técnico) são um mal terrível em séries de 23 episódios, fazendo com que a trama que realmente importa avance a passos de tartaruga. Walter é um personagem enchimento, simplesmente não precisava existir. Por isso prefiro o formato mais enxuto dos 12 episódios, que podem proporcionar uma história mais amarradinha e relevante.

No meu post anterior eu reclamava das passagens na Ilha onde Oliver é treinado para se transformar no incrível Arqueiro Verde. Um amigo deixou até um comentário dizendo que a Ilha faz parte da mitologia do herói. Não duvido. Mas não deixa de ser interessante ver como todos lá são exímios lutadores, desde Slade (o Destruidor) e Yao Fei, até a sua filha, Shado, inicialmente aparentemente indefesa mas depois mostrando-se uma guerreira de mão cheia. Comentei que a ilha me lembrava Lost: os personagens e as situações vão se alternando, há traições e reviravoltas nos objetivos de cada um a todo instante e Fyers é uma versão furreba do inigualável Ben (de Lost). A ilha funciona como uma prisão e sempre que eles acham que encontraram uma saída da Ilha, veem seus planos frustrados ou, simplesmente, devem fazer uma escolha moral que acaba impedindo-os de sair. Em vários momentos, principalmente nos malditos fillers, a trama da Ilha era o que a temporada ofereceu de melhor.

Um problema dessa temporada é a quantidade de pessoas que descobrem a identidade do herói. Vai ser difícil confiar em tanta gente: Diggle, Smoak, o seu inimigo Arqueiro Negro, Helena, Tommy… bem, ao menos esse último não é problema. Acho pouco verossímil tal situação e estou curioso para ver a sequência com Malcolm a partir de aqui. Se bem que a associação de Oliver com a máfia russa – algo ainda não explicado – está aí para eu parar de falar de verossimilhança agora mesmo!

Um pouco mais chato, no mesmo quesito, é a fragilidade da polícia. Oliver ou Thea ou Roy entram lá quando querem e acabam obtendo as informações que precisam. Em um determinado episódio, Oliver pergunta sobre um caso, McKenna lhe comenta sobre um dossiê contendo TUDO o que a polícia sabe sobre o caso, dá as costas e saí da sala. É sério? Acho que os roteiristas deveriam se esforçar um pouco mais para fazer a evolução das tramas – e a introdução de Felicity como parte do time ajuda muito, por mais absurdo que seja é melhor ter uma hacker capaz de se infiltrar em qualquer sistema do que ter uma polícia tapada… Para piorar, Oliver é capaz de invadir e salvar Helena, na delegacia, no meio de um interrogatório! Putz… só não foi pior do que a forma como chegaram a isso: a polícia faz uma emboscada para pegar tanto Helena quanto o Vigilante… mas convenientemente – e sem nenhuma explicação decente – um dos carros estava vazio (aquele que Oliver perseguiu) enquanto o outro tinha a emboscada que aprisionou Helena. Oras, porque não haviam policiais nos dois, ainda que Oliver conseguisse escapar? Esses fillers me dão uma preguiça e devem dar também nos roteiristas e produtores. O episódio 10, sobre um ex-membro dos bombeiros, é ruim de doer: trama, condução, final. E aquele com os ex-marines com quem Diggle trabalhava? E o do ladrão de jóias? É triste.

Mas isso é um mal que não cabe apenas a Arrow, que até que se sai bem mantendo o interesse e interpretações razoáveis dos seus atores. Vou conferir a segunda temporada.

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