Começou de novo
Estamos na temporada da euforia, do novo que refresca nossas esperanças a cada vez que um novo ciclo de 365 dias se encerra e outro tem início. Seja bem-vindo 2016. Começou tudo de novo e janeiro já vem alcançar sua metade e assim os dias vão se sucedendo.
Chamamos o ano de novo pois precisamos trocar o calendário, jogar fora as páginas rabiscadas do diário anterior e abrir as páginas ainda em branco de um novo. E o que vamos escrever nele? Será algo de fato muito diferente do que o que escrevemos no ano anterior? Qual a primeira coisa a fazer? Olhar o dia que vai cair nosso aniversário? Verificar com ansiedade se os feriados vão cair em dias de semana? Avaliar se vai ser possível fazer pontes e planejar viagens para a praia?
Eu já escrevi vários farelos sobre o fato de eu não acreditar em passado e futuro… eu sou devoto do presente. Mas um calendário de um ano novo em branco é exatamente isso: um ano inteiro de possibilidades a serem efetivamente vividas e, desta forma, escritas. A gente pode até anotar, no dia primeiro de janeiro, que vai estar aqui ou ali em determinado período, que vai fazer isso ou aquilo em determinadas datas… mas nós vamos mesmo? Depende do acaso, do azar e da sorte, do destino e um bocado de nós mesmos. Se quisermos com vontade, vamos sim, porque não?
Quando olhamos para este futuro que o ano nos reserva, geralmente aproveitamos que o ano é novo para também planejar coisas novas para nós mesmos. Planejamos mudanças e experiências. Mas temos que também continuar regando as flores que já cresceram em nossos jardins, para que não sequem. Plantar outras mudas sem deixar que as árvores que já dão frutos ou sombra sejam esquecidas.
A cada ano repetimos várias ações e isso é natural e é também bom, se as coisas que continuamos a fazer nos fazem bem. Repetição, por si só, não é mau. Mas aquelas coisas que fazemos e que nos inquietam, nos maltratam, nos chateiam, essas talvez valham a pena deixar no ano passado, se isso for possível.
A cada ano também fazemos várias coisas novas e isso é natural e é também bom, mas não é porque algo é novo que é, por si só, bom. E se não for bom, temos que estar atentos para que não entrem em nossa rotina e se transformem em algo que no ano que vem vamos querer riscar de nossas vidas. Que já risquemos logo após percebermos que não é legal, para que esperar o trinta e um de dezembro? E se gostarmos muito de fazer algo novo ou de estar com alguém novo, que essas coisas e esse alguém preencham vários dias do nosso calendário do ano novo, para fazer com que o novo valha a pena.
Um ano novo é um evento que pode ter consequências profundas ou quase nulas. É como se nós, como rios em nossa calmaria, pudéssemos ser alcançados pela força de um oceano, em uma pororoca de possibilidades que nos assalta e que pode mudar o leito de nosso rio, pode arrancar árvores e casas e nos fazer viver em outro lugar. Ou passar ao largo, deixando nossas águas sentirem apenas pequenas marolas das grandes ondas de outras vidas.
Foto de Araquém Alcantâra (Facebook: /alcantara.araquem).
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