Comprando o Office para lançar no Excel as faturas do Facebook

Comprando o Office para lançar no Excel as faturas do Facebook

Para aqueles que leem esse 171 e não me conhecem, se é que existem!, minha carreira é toda formada na área de tecnologia. Eu comecei a programar com, sei lá, 14 anos no longinquo ano de 1992. Vendia programas de computador feitos sob medida para os comércios locais da cidade onde morava. Estudei, me formei na área e atuei profissionalmente com desenvolvimento de software por vários anos. Software era meu ganha pão. Na verdade, sempre foi e espero que continuará sendo, ainda que eu esteja cada vez mais distante de sua manufatura direta.

Pois bem, esse preambulo serve para contextualizar e dar relevância ao que quero destacar agora: eu comprei o pacote Office, da gigante Microsoft. Sim, aquele que traz os famosos Word e Excel. Aquele que tem o famigerado Power Point e suas indefectíveis apresentações. É tão famoso que PPT, a extensão para identificar o formato do arquivo do aplicativo, virou sinônimo de slides. Tem o Outlook para gerenciamento de e-mails. E tem outros softwares que (quase) ninguém usa, iguais aos últimos bombons que sempre sobram nas caixas de sortidos.

É, eu sei, o fato de eu ter comprado um pacote de software não pode ser tão relevante assim para justificar uma coluna, um texto todo. Afinal, essa é uma coluna sobre cotidiano! Mas, pergunto eu, não é cotidiano um pedreiro comprar martelo e pregos? Não é cotidiano um pintor comprar tinta? Sim, profissionais consomem ferramentas. E eu, como profissional de TI, consumo softwares como ferramenta. Grande parte dos softwares que utilizo, no entanto, são gratuitos. Software livre, mais do que uma bandeira, uma forma de pensar o mundo. O Office não, o Office é pago. E apesar de existirem alternativas livres que entregam as mesmas funcionalidades, com qualidade um pouco inferior, eu em geral preferia usar o pacote líder de mercado. Era melhor, era cômodo para trocar arquivos com outras pessoas, visto que era o formato predominante dos arquivos. Mas, reforço, só agora, em 2013 é que eu comprei uma licença.

Portanto, meus caros, esse texto é mais do que publicidade gratuita à Microsoft. É quase que um pedido de desculpas. Os custos e o modelo de aquisição estão mais simplificados e justos, o que me motivou à aquisição, mas não acho que agia bem antes, ao usar cópias “promocionais” da ferramenta. Não é correto, é dar importância demais ao meu próprio umbigo – algo em que eu infelizmente sou muito bom. Afinal, sou ator da indústria de software. Como posso ao mesmo tempo cobrar pelos meus serviços e recusar a pagar pelos dos outros, se são equivalentes? E ai não importa os diálogos de Sansão e Golias, do gigante que não precisa vender mais uma cópia. Ou roubar R$ 10,00 é menos grave do que roubar R$ 100?

Ainda relacionado ao tema dos pagamentos por software, cabe retomar um tema que volta e meia surge em rodas de bar de desavisados. As lendas urbanas tais como a de que o Facebook será pago (caramba, na tela inicial do aplicativo web está escrito: “Cadastre-se. É gratuito e sempre será”) ou de que compartilhamentos e/ou curtidas vão gerar algum tipo de brinde ou doação. O temor de pagar por software, ainda que os utilizemos todos os dias e demos muito valor a eles, é tão grande que essas lendas atemorizam a web-esfera e se propagam feito fogo no mato em dias secos. As pessoas tem sempre que pensar se o que estão lendo faz sentido e buscar informar-se, aprofundar um pouco. Isso vale para lendas urbanas tais como as que citei, mas também sobre política, cultura e qualquer outro assunto. O Facebook já é pago, mas você não paga com dinheiro mas sim com algo mais valioso: informações sobre seus hábitos e preferências.

O Facebook é tão acessado que ele não é o único a vender publicidade. Páginas ali hospedadas, desde que comprovem serem bastante acessadas, também viram canais de atração de anúncios e geram negócios. Sabe como uma página mostra que tem conteúdo interessante? Exatamente, exibindo aos possíveis investidores um relatório que mostra a média de curtidas e compartilhamentos que seus posts possuem. E as pessoas que compartilham e curtem respondendo às enquetes mais bizonhas estão colaborando para que essas atrocidades ganhem espaço, enquanto outras páginas que de fato produzem conteúdo interessante fiquem às moscas, buscando seu espaço ao sol. Essa atitude é comparável a não comprar a licença do Office. Vamos compartilhar e curtir sim, mas pensando um instante antes se de fato gostamos do que vimos e se de fato queremos que nossos contatos tenham acesso àquele conteúdo. 

Bom, deu para mim, hora de descer. Tenho que chegar logo em casa para atualizar minha planilha de gastos no Excel com os valores novos da mensalidade do Facebook. Até a próxima!

Publicado originalmente aqui.

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