Consciência ambiental e seus tons de verde

Consciência ambiental e seus tons de verde

Essa é uma coluna sobre cotidiano, dia-a-dia, rotina. E nada tem sido mais rotineiro para mim, neste 2013 que está chegando ao seu fim, do que viagens. Muitas viagens e, naturalmente, deslocamentos. A pé, de bicicleta, carro, ônibus, trens e aviões. De tudo um pouco. Portanto, não é surpreendente que, novamente, a foto que ilustra o texto tenha sido tirado em um destes ambientes que promovem os deslocamentos, no caso de hoje um aeroporto. O que é curioso é que dentro de um aeroporto eu tenha visto uma pessoa pedalando.

Pois bem, de fato havia um aparelho instalado no hall do aeroporto no qual as pessoas podem sentar e pedalar, tal qual uma bicicleta de academia. Mas o foco ali não era (apenas) saúde, mas consciência ambiental. O aparelho dispunha de tomadas para permitir a, atualmente, tão comum e desejada recarga de nossos dispositivos portáteis como celulares e laptops. Quer manter o seu smartphone ligado enquanto aguarda o voo, basta dar umas pedaladas para que o dínamo (ou, você mesmo!) produza a energia que precisa. A humanidade hoje tem um consumo de energia gigantesco e aumentando. Eu mesmo carrego um T comigo na mochila – o que já me serviu como “ferramenta de interação social”, tema para uma próxima coluna. Ao mesmo tempo, e controversamente, há a necessidade de se poupar recursos e mudar hábitos para que o planeta não colapse. Há como conciliar as duas coisas, tal qual a iniciativa do tal aeroporto parece querer questionar?

Este mesmo tema, o da consciência ambiental/ecológica, foi pauta de uma conversa recente com um amigo que acabou de voltar de uma estadia de alguns anos nos EUA. Viveu ele próximo a São Francisco, uma das regiões onde os norte-americanos são mais ativos com relação a preocupações ambientais. Fez meu amigo a seguinte comparação: “Enquanto na França uma pessoa preocupada com o meio-ambiente sai às ruas para manifestar-se contra até mesmo o transporte público, já que movimenta-se apenas a pé ou de bicicleta, o seu equivalente norte-americano compra um Toyota Prius como ato de protesto”. Por mais que hajam rótulos semelhantes, parece-me claro que há aqui conteúdos diferentes.

A conversa que relatei acima foi motivada por um comentário meu dizendo que estou tentando viver sem carro no Brasil. É tarefa difícil e minha motivação não é exatamente ambiental mas, sim, muito menos nobre do que isso. Não à toa da mesma forma que acontece nos EUA, as cidades brasileiras também são mais adaptadas ao transporte individual do que coletivo. A indústria automobilística agradece. O maior exemplo disso é a nossa própria capital, planejada de tal forma que pedestres não façam muito sentido. E JK tem muito a ver com esse direcionamento para o fortalecimento da indústria de automóveis e a desativação das vias ferroviárias, por exemplo. O que não explica por si só a falta de transporte público nas cidades brasileiras. E se é fato que hoje em dia, nas cidades brasileiras de médio e grande porte, é até mais econômico para as pessoas deslocarem-se em seus próprios veículos, também é verdade que carro no Brasil é, além de meio de transporte, veículo de status social. Abrir as portas de um carrão, abre portas. E se caos urbano, trânsito, poluição, consumo de recursos naturais não são causas suficientes para uma mudança de atitude, a comodidade, conforto e vaidade proporcionadas pelos veículos próprios somadas à falta de alternativas coletivas de deslocamento não colaboram para que algo novo aconteça.

Para fechar esse texto concluo dizendo que para que vivamos uma outra situação com relação a meio ambiente mas também, mais especificamente, com relação a mobilidade urbana é necessário uma revolução uniforme e contínua, pública e individual. As pessoas tem que querer e isso significa estar disposto a abrir mão de certos confortos, pensar na melhor solução sistêmica e não individual. O Governo, por sua vez, tem que apoiar e fazer acontecer, de maneira organizada e permanente, uma política que proporcione alternativas de qualidade, acessíveis e com apelo para uma migração de hábitos. Antes de termos um país sustentável, precisamos de cidades sustentáveis, que por sua vez precisam de bairros, ruas, prédios, casas, pessoas sustentáveis e conscientes. Pedalar para carregar o seu celular é um primeiro passo, mas está longe de ser o suficiente. 2014 está chegando, vamos lá?

Publicado originalmente aqui.

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