Curiosidade

Estava refletindo um dia desses sobre o que move as pessoas e o que as faz ser o que elas são. Mesmo no aspecto profissional, o que é que faz com que elas optem por essa ou aquela profissão. Existe mesmo algo como “vocação”? E, se sim, como ela se dá?

Na minha opinião, a resposta a essas perguntas é a curiosidade. E mesmo a vocação, se existir, se manifesta através dela.

Eu, por exemplo, não tenho a menor vocação para qualquer assunto relacionado a mecânica de automóveis. Não gosto do tema. Não me interessa, não desperta a minha curiosidade. Mas sou apaixonado por F1, mas isso se deve ao meu amor por esportes e por ter sido um grande fã de Ayrton Senna, época em que minha curiosidade por esportes era muito grande, a ponto de assistir a um jogo entre Ituano e Novorizontino pela Copa São Paulo de juniores de forma muito interessada.

E essa curiosidade que as crianças demonstram, por este ou aquele assunto, é que eu acredito que sejam os grandes condutores de suas vidas, suas personalidades e, possivelmente, de suas vidas profissionais.

Vou então tentar entender o porquê me interessei por computação. Morava em Costa Rica e tinha feito um curso de datilografia e, depois disso, um curso de datilografia em máquina elétrica. Um dos donos da escola de datilografia era o meu pai e ele havia comprado o primeiro computador da cidade, visando começar a oferecer também cursos de informática. Eu tinha de 14 para 15 anos. Computadores, eu conhecia, apenas de filmes e achava muito curioso o que se poderia fazer com eles, supondo que o que via nos filmes era verdade.

E foi assim, movido por muita curiosidade, que comecei a estudar, junto com meu pai, como funcionava um computador. Digitar eu já sabia, mas o computador ia muito além da máquina de escrever e até mesmo da máquina elétrica. Sim, ele era interativo. Foi com grande entusiasmo que aprendi a escrever textos no Wordstar e no Fácil – o equivalente ao Word, na época. Dominei o MS-DOS e seus comandos e até me tornei um instrutor de informática, apesar da pouca idade, na escola de meu pai. O computador se tornou um parceiro, substituiu o master-system que eu queria ganhar e zerava Prince of Persia em 20 e poucos minutos.

Meu pai e seu sócio firmaram um contrato com a prefeitura, para fornecer equipamentos e treinamento, além de fazer todo o “processamento de dados”, o que incluia fazer todos os lançamentos de informações nos softwares utilizados pela prefeitura. Uma empresa de Campo Grande era a fornecedora das soluções. E, por descuido ou por praticidade, deixaram o código-fonte de alguns programas por lá. Como estava curioso por saber como funcionava a tal “programação de computadores”, comprei alguns livros e comecei também a ler o código-fonte dos softwares da prefeitura. Aprendi muito com eles e complementei o conhecimento com os livros de Clipper e Dbase III Plus. Vendi vários sistemas para comércios da cidade e aprendi ali uma profissão.

Fiz o curso de Ciência da Computação muito curioso sobre o que aprenderia, basicamente pensava que seria um curso técnico, que me ensinaria uma linguagem por ano. Ledo engano, encontrei algo totalmente diferente, científico, de base, matemático. Aprendi o que era ciência de fato, aprendi a aprender e, principalmente, consegui dar valor às coisas certas no que se refere à computação. Linguagens, bah. Descobri a engenharia de software, os compiladores, as idéias por trás dos sistemas operacionais, a inteligência artificial…

Enfim, a curiosidade, que começou lá atrás, em como aprender a digitar (ou datilografar, para ser mais preciso) mais rapidamente, me guiou até aqui, prestes a iniciar um doutorado em biologia computacional.

Não creio que eu seja a exceção. É a curiosidade que nos torna quem somos. Afinal, o que desperta a sua curiosidade?

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