Detona Ralph

Detona Ralph

Começo meus comentários sobre Detona Ralph (Wreck-it Ralph, 2012, dirigido por Rich Moore) dizendo que eu não sou um gamer inveterado e, assim, provavelmente perdi muitas das divertidas referências e citações que o filme oferece. Contudo, isso em nada interferiu na agradável experiência que é assisti-lo! Tecnicamente perfeito, com enredo edificante, bem construído e que agradará aos mais diferentes públicos.

Logo no início do filme, somos apresentados a Ralph, o vilão do jogo de fliperama “Conserta Felix”. Sua tarefa no jogo consiste, basicamente, em detonar um prédio enquanto o jogador tenta consertá-lo através do personagem Félix e do seu martelo mágico. Tudo seguia bem nos vários anos de existência do jogo até que um dia, Ralph sente-se injustiçado e decide que, ele também, quer tornar-se um herói de videogame, com direito a medalhas de honra e glória, festas e tapinhas nas costas!

O filme é extremamente feliz ao trazer vários elementos do mundo dos videogames de uma maneira muito orgânica, integrada à narrativa. Toda a história se desenrola, principalmente, no ambiente de três jogos. O próprio “Conserta Felix” (Fix it Felix!), cujo cenário é basicamente um prédio, “Hero’s Duty” um jogo de tiro em primeira pessoa em que o propósito e aniquilar uma horda de insetos-robô e o jogo “Corrida Doce” (Sugar Rush), em que diversos pilotos correm em um mundo de doces e confeitos. Observem elementos como as diferenças de qualidade gráfica entre os jogos mais antigos e os mais recentes, os crossovers entre personagens de games diferentes, o cabo-transporte que permite a movimentação entre os vários arcades, a sina dos vilões e suas reuniões estilo AA (“Um Jogo de Cada Vez”), os tilts e bugs…

O filme é centrado na trama de “volta por cima dos excluídos” representado tanto pelo próprio Ralph quanto por Vanellope, a corredora-bug do jogo Corrida Doce, e seu desejo de tornar-se uma corredora oficial do jogo, contra a vontade do monarca Rei Doce, que governa esse adocicado mundo. A propósito, acredito que o nome da personagem é uma versão apropriadamente em baunilha para a clássica animação Penelope Charmosa (Penelope Pitstop, no original). Mas Detona Ralph! tem também muito humor, através de referências da cultura pop e da internet (como o fato da combinação diet coke + mentos exercer um papel fundamental no desenrolar da história) e até mesmo romance, como a relação entre Felix Jr. e a super-soldado Calhoun.

E quando rompemos, virtualmente, a “quarta-parede” e nos vemos dentro da tela do fliperama, acompanhando “os mecanismos do jogo”, em alguns momentos podemos ver os personagens, assustados, tendo que interagir com os comandos dos jogadores ao mesmo tempo em que tem que aceitar as suas regras de programação. Neste ponto, o filme mostra até uma direção ambiciosa, tratando os personagens dos jogos como indivíduos com missões claras e sem “livre-arbítrio”, agindo apenas como marionetes dos “deuses-jogadores”, até que uma rebelião de um indivíduo abala todo o status quo e coloca todo aquele universo em xeque ou “em manutenção”.

Mas aqui eu devaneio, deixe-me voltar aos méritos mais obviamente explorados pela animação.

É interessante notar, também, como o próprio filme desenvolve-se em uma estrutura próxima à de um jogo. Somos, no início, apresentados à missão do herói e depois o acompanhamos nas mais diversas situações para “ajudá-lo” a cumpri-la. Assim, podemos enxergar a obtenção da medalha em Hero’s Duty como a primeira fase, a ajuda ao treinamento de Vanellope como a segunda, a luta contra a invasão dos insetos-robô no mundo da Corrida Doce como a terceira, até a luta final contra o chefão Turbo, que ironicamente faz o caminho inverso, de um herói que se sente abandonado, à medida que novos jogos vão surgindo, a vilão.

Detona Ralph! É um raro filme que, provavelmente, agradará a qualquer público. Às crianças, aos seus pais. A gamers da nova geração, da antiga geração e até daquele que pouco ou nunca jogaram. Ótimo filme que merece ser visto!

PS: Curiosamente, achei a dublagem nacional ainda melhor do que a versão original. Para filmes “infantis” ou animações, sou muito menos crítico quanto às dublagens do que com relação a filme live-action.

Publicado originalmente aqui.

0 Seja o primeiro a curtir esse farelo

Esfarelado