Elysium

Elysium

Elysium (dirigido por Neill Blomkamp, do aclamado Distrito 9) é o nome da estação espacial construída no século XXII para os abastados viverem seu mundo de perfeita felicidade enquanto a classe operária trabalha para sobreviver nos restos da Terra, destruída, pobre e violenta. O nome do filme significa exatamente Paraíso, na mitologia clássica. E o lugar de fato parece viver uma utopia, reunindo a “elite” humana em casarões com jardins e piscinas e câmeras de recuperação que permitem a vida eterna. E quando essa tranquilidade ameaça ser interrompida, Delacourt (Jodie Foster, implacável), a agente de Estado responsável pela segurança, é acionada e toma as devidas medidas para garantir a paz a Elysium. O que envolve acionar o mercenário Kruger (Sharlto Copley) para cometer assassinatos, a prisão dos que eventualmente escapem de seu ataque a base de mísseis espaciais e a sua posterior deportação. Simples assim.

Nesse contexto, somos apresentados a Max (Matt Damon), que vive em condicional depois de ter-se envolvido com gangues de roubos de carros e com o perigoso Spider (o brasileiro Wagner Moura, estreando em Hollywood já em papel de destaque). Ele trabalha na Fábrica de Robôs de John Carlyle (William Fichtner), o magnata cuja companhia ajudou a construir Elysium. Assim, o roteiro é esperto ao mostrar, sutilmente, os operários perpetuando o próprio sistema opressor. Ao discutir com um robô que o aborda em uma fila, situação cotidiana mas que torna-se complicada pela falta do elemento humano, Max é agredido e acaba reencontrando a enfermeira Frey (a também brasileira Alice Braga), seu amor de infância e de toda a vida, no pronto-socorro onde é atendido.

É nesse cenário distópico que se desenrola a interessante trama do filme que tenta, com algum sucesso, mesclar os elementos político-sociais com a típica ação hollywoodiana. Acompanhamos a tentativa desesperada de Max de chegar a Elysium para curar-se de uma exposição a radiação, o que o leva a aliar-se a Spider para um último e arriscado trabalho, o que o colocará frente-a-frente com Kruger e a inescrupulosa Delacourt, que busca aplicar um golpe de estado, em conjunto com Carlyle. O que incomodou foram os elementos de melodrama e a forma como elementos importantes, como a leucemia da filha de Frey (e de Max?), foram atiradas na história sem o menor cuidado. Além disso, apesar de todo o cuidado da direção de arte (a estação Elysium, em especial, é deslumbrante), o filme peca em originalidade. Se um futuro distópico com a humanidade dividida em castas já foi bastante explorada, mesmo elementos menores da história remetem a diversos outros filmes. É difícil não pensar em Wall-E quando somos apresentados a Elysium e vemos a Terra destruída. Temos as informações vitais armazenadas na cabeça de alguém e que viram prêmio, como em Johnny Mnemonic e até elementos narrativos, como máquinas que precisam ser reprogramadas no clímax do filme para que a trama se encerre a contento, que remete imediatamente ao fim do Robocop original. O elemento mais “original”, os flashbacks hispano-religiosos da infância de Max e Frey, são também os mais descartáveis, por óbvios e melosos, com o claro objetivo de manipular e sensibilizar.

Mas ainda assim, uma vez que as peças são dispostas no tabuleiro, o filme acelera num crescendo de tensão e urgência e é bastante divertido de se acompanhar. Vale a pena ser visto no cinema, deve perder bastante do encanto visual em tela menor e com o espectador mais disperso. Três pipocas que, com um pouco mais de zelo no roteiro, seriam quatro.

OBS: Não entendi como os cientistas do futuro bolaram Elysium a ponto de ela ter atmosfera própria e respirável, em pleno espaço. O fato das espaçonaves “entrarem” na atmosfera da estação espacial me pareceu um tanto quanto absurdo e evitável!

Publicado originalmente aqui.

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