Homem de Ferro 3

Homem de Ferro 3

Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, dirigido por Shane Black) não só é o terceiro filme da franquia do vingador dourado como também mais uma peça no grande painel da Marvel Studios no cinema. É um bom filme de ação, em que a trama do vilão soa convincente, sendo talvez o melhor elemento do roteiro, com direito a um divertido plot twist.

Há uma maldição com os terceiros filmes das franquias de super-heróis: X-Men 3, Homem-Aranha 3 (que até mesmo fechou um ciclo para o personagem no cinema) e o mais recente terceiro volume do Batman de Chris Nolan devem muito aos filmes que os precederam. A meu ver, o Homem de Ferro beneficia-se de um péssimo segundo filme para dar a volta por cima e fechar com um saldo positivo. A mais recente incursão do homem de lata nos cinemas não é tão interessante (e cheia de frescor) quanto o filme original, mas é bem superior ao fraco segundo filme.

Neste terceiro volume das aventuras do Homem de Ferro no cinema encontramos Tony Stark (Robert Downey Jr., que também vive o Sherlock Holmes nos cinemas) sofrendo de ataques de ansiedade pós-incidentes com alienígenas retratados em Os Vingadores, e dedicando-se totalmente às suas invenções. Pepper Potts (Gwyneth Paltrow, de Capitão Sky) está à frente da companhia e tem de decidir entre apoiar ou não os novos projetos do gênio cientista Aldrich Killian (Guy Pearce, de Prometheus). Além disso, um novo terrorista, o Mandarim, responsabiliza-se por estranhas explosões que vem ocorrendo em diversos pontos dos Estados Unidos.

Quando em um desses ataques o seu antigo guarda-costas, e amigo, Happy Hogan (Jon Favreau, que dirigiu os dois filmes anteriores da série) é atingido e quase morto, Stark ameaça o Mandarim e acaba envolvido nas armações do terrorista para matar o presidente dos EUA através dos atentados que ele chama de “atos educativos”.

A partir de aqui o texto pode incluir comentários que seriam mais adequados apenas a quem já viu o filme (spoiler alert).

As referências ao universo Marvel resumem-se a vários momentos em que os incidentes de Nova York (Vingadores) são mencionados e aos ataques de ansiedade que essas lembranças provocam em Tony Stark. Isso tem uma importância na conclusão do filme, mas também é a causa de um sério problema narrativo. Explico. Em várias situações, Stark age sozinho, arriscando-se em demasia e chega mesmo a colocar em risco a vida do presidente dos EUA e de sua amada Pepper por estar aguardando a carga e reparos no modelo Mark 42 que foi avariado após o ataque do Mandarim a sua mansão. Porém, em outro momento, ele aciona um protocolo que envia dezenas de armaduras prontas para o combate (que justificam o que ele fazia ao não dormir devido à crise de ansiedade), para ajudar ele e Rhodes nas cenas finais do filme. É claro que para os propósitos narrativos do filme isso faz sentido, porém em uma situação real ele teria acionado esse protocolo antes para, ao menos, utilizar-se de uma das armaduras prontas, ao invés de aguardar por Mark 42, em um comportamento longe de ser verossímil.

O filme é inteligente ao demonstrar a necessidade de se dar uma face ao terror, de personificá-lo. A figura do Mandarim é construída para causar medo e insegurança ao mostrar justamente alguém disposto a tudo e absolutamente seguro de si (como ao executar um refém a sangue frio em rede nacional, na cena da ligação do celular do presidente). Quando esse efeito é desconstruído, de forma orgânica à narrativa do filme e absolutamente justificada, ainda que vá contra o personagem clássico dos quadrinhos, podemos apreciar uma grande interpretação de Ben Kingsley (A Invenção de Hugo Cabret), sobressaindo-se até mesmo à já cansada atuação de Downey Jr., no piloto automático como o super-herói do filme.

Chegamos, então, ao grande problema da película que é justamente o trunfo do original. Seu protagonista. O ator é tão carismático que o roteiro inventa mil e uma formas de deixá-lo sem a armadura. Armaduras com propulsão autônoma (um novo elemento excessivamente explorado na história, quase como um gadget de 007 que precisa ser usado, pois foi apresentado no início do filme), armaduras pilotadas à distância, armaduras que chegam a se desmontar completamente com um soco ou uma pequena colisão – em uma cena para provocar alívio cômico no clímax da narrativa! E Stark, em vários momentos, mostra-se uma mistura de McGyver e de um herói de ação à la Steven Seagal, invadindo prédios , dando socos e pontapés e jogando fora as armas que usa à medida que avança e coleciona corpos, em uma desnecessária descaracterização do personagem.

Por outro lado, essa necessidade de mostrar Downey Jr. cria uma nova camada para o filme ao separarmos Stark e o Homem-de-Ferro. É curioso vê-lo sentado ao lado da armadura em determinada altura do filme, como se fossem velhos amigos tomando uma cerveja, criando um distanciamento entre criador e criatura para depois vê-lo afirmando “Eu sou o Homem-de-Ferro”, com todas as letras de forma a assegurar que um não pode viver sem o outro. Nesta mesma linha, a cena em que Pepper despede-se de seu amado fitando a sua armadura destruída e, através dela, recebe um recado “dos céus” também mostra a conexão e unicidade de Stark e sua obra.

Apesar do excesso de personagens (sequer comentei ainda das participações do cel. Rhodes e o seu Patriota de Ferro, da cientista Maya Hansen, do bom “capanga” Savin, o garotinho Harley) o filme não cansa e diverte com suas duas horas de muita explosão, mil e uma armaduras diferentes e um Tony Stark mais super-herói do que nunca.

OBS: O enredo do filme guarda levíssimas semelhanças com a saga Extremis, dos quadrinhos.

Publicado originalmente aqui.

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