Hotel Ruanda
Resolvi voltar ao Hotel Ruanda. O filme é aterrador e perturbador. É chocante. E não só pelas cenas de violência que o retrato de uma guerra civil pode proporcionar. É claro que ver um jipe trepidando por estar em uma estrada de corpos é algo que provoca reações. Mas o que mais me chocou no filme é o seu aspecto humanitário, ou melhor, de como o aspecto humanitário importa tão pouco quando os homens em questão não possuem representatividade militar, econômica, política e, no caso específico do filme, são negros.
O mais chocante no filme é ter percebido que a ONU e as nações que ela representa (o mundo, enfim) simplesmente virou as costas, deixou acontecer. A justificativa é simples: não há votos em jogo e a vitrine (a guerra em um país africano) não vai despertar atenção para justificar uma intervenção militar. Deixe que se matem. Representativamente um repórter americano explica ao personagem principal que o máximo que as imagens que coletou (o assassinato brutal de toda uma família) vai render é uma noticia no jornal noturno, que vai ser assistida como uma outra notícia qualquer.
E, vejamos agora, o que mais me perturbou: o motivo da tal guerra civil. A Ruanda foi colonizada pela Bélgica. Os poucos brancos que foram responsáveis pela colonização criaram uma distinção entre a população (alguns mais altos receberam uma designação enquanto outros, de menor estatura, receberam outra). Deixaram o país e o deixaram sob a administração dos tutsi (mais altos). Os hutus (mais baixos) deviam ser controlados. Percebam a crueldade dos belgas, apesar da inteligência estratégica de sua atitude. Conseguiram plantar a semente da futura guerra civil, ao dividir uma mesma raça segundo algum critério e, dando o poder a uma delas, gerar a segregação, a inveja, o ódio.
O mesmo repórter citado acima, em outro trecho do filme, pergunta a duas amigas ruandesas que conversam: “vocês são tutsi ou hutu?”, recebe duas respostas diferentes e então, perplexo, concluir: “mas vocês podiam ser gêmeas”.
E é essa a realidade do filme, em que existem famílias que possuem as duas “raças” e que, no momento da guerra, vêem-se divididas.
Concluindo: como é possível que possamos nos ver tão diferentes?