Minha biografia em Copas do Mundo

Adoro futebol e, naturalmente, a Copa do Mundo. Tanto que resolvi narrar minha biografia em termos de Copa do Mundo, já que estamos em ano de Copa – que por sinal começou hoje com o empate entre os anfitriões sul-africanos e os mexicanos por 1 a 1 – e eu nasci em um ano de Copa.

1978 – Copa do Mundo da Argentina.
Na cidade de São Paulo nascia o pequeno Paulo, também filho de Paulo. Paulistano que sou apenas no registro de nascimento uma vez que pouco depois de completar um ano de vida mudei-me com meus pais para o interior do recém-criado estado de Mato Grosso do Sul. Mais exatamente, para o meio do nada uma vez que a cidade de nossa acolhida chama-se Figueirão e, hoje em dia, conta com pouco mais de dois mil habitantes e à época sequer energia elétrica possuia. Minha mãe, Malu, e minha irmã, Isabela, também embarcaram na viagem. Lá pelos pampas, a Argentina papava seu primeiro título mundial tendo se classificado – e eliminado indiretamente o Brasil – através de um clássico resultado comprado contra os peruanos. Vexame.

1982 – Copa do Mundo da Espanha.
Não tenho muitas recordações dos meus primeiros quatro anos de vida mas o fato é que a copa de 82 é lembrada até hoje pela eliminação do Brasil frente à Itália com os fatídicos três gols do Paolo Rossi. A nossa seleção ficou marcada pelo belo futebol e é considerada até hoje, pelos especialistas, uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos. Zico, Falcão, Sócrates, Júnior… uma pena. O título ficou com a própria Itália. Eu, por outro lado, já havia me mudado do Figueirão para Costa Rica, onde meus pais ocupavam cargos de professores, cada um em uma das duas escolas estaduais da cidade. Trata-se de uma pitoresca cidade a aproximadamente 60km de Figueirão e à época a “metrópole” da região, com seus aproximadamente 10 mil habitantes.

1986 – Copa do Mundo do México
A infância em Costa Rica foi extremamente feliz. Boas amizades, brincava até tarde da noite na rua, voltava sujo para casa quando minha mãe gritava me chamando e não tinha tempo a perder diante da TV assistindo a uma Copa do Mundo. Nesta época, ainda não dava a mínima para o futebol, gostava mesmo era de pé-na-lata, betes, pique-esconde, queimada e afins. Não acompanhei, portanto, o clássico gol de mão de Maradona e o segundo título da Argentina. Mas já estava estudando e, desde sempre, tendo minha mãe em função dupla de mãe e professora de português e literatura. Meus pais, a essa altura, já estavam separados e eu e minha irmã passamos a morar apenas com ela. O Brasil? Bem, foi eliminado pela França na cobrança de pênaltis…

1990 – Copa do Mundo da Itália
É gozado que minha memória da infância é muito mais vívida neste período em que meu interesse pelo futebol surgiu. Comecei a jogar futebol e a praticar toda a variedade possível de esportes por volta de 1988, no alto de meus dez anos. E como as minhas responsabilidades eram bastante restritas em 1990 – basicamente fechar todas as matérias na escola – eu pude assistir a TODOS os jogos desta Copa do Mundo. E foi um enorme prazer e, desde então, um vício que à medida do possível procuro satisfazer. A Copa da Itália foi tecnicamente fraca e terminou com a Alemanha como campeã diante da Argentina na final. Fomos eliminados pela própria Argentina, gol de Caniggia que foi um grande sofrimento de se assistir. A equipe ficou conhecida como “geração Dunga”, o mesmo Dunga que hoje pode nos encaminhar para o hexacampeonato. Lembro-me também da enorme torcida que todo o Brasil fez pela seleção de Camarões e o seu craque Roger Milla.

1994 – Copa do Mundo dos EUA
Primeira Copa do Mundo realizada na América do Norte e deu Brasil. Logo na segunda copa que acompanhei já tive o prazer de ver o nosso país campeão, sensação imortalizada pelos gritos ensandecidos do Galvão Bueno, abraçado ao Pelé, berrando “É tetra, é tetra” no momento em que Roberto Baggio perdeu sua cobrança de pênalti. Dunga estava redimido. Eu, mais uma vez, consegui ajustar meus horários para cobrir todos os jogos. A seleção e o Brasil homenageiam a perda de um grande brasileiro, Senna. Eu, por minha vez, tenho que suportar a perda de meu pai, morto ainda muito jovem devido a complicações causadas por um câncer na garganta. Meu pai foi um grande homem: divertido, engraçado, carismático, professor de matemática, músico, jornalista, diretor e ator teatral. Mas não era privado de defeitos – como o vício no álcool – que o levaram à precoce separação e posteriormente aos problemas de saúde que o mataram. Uma pena, senti muito a falta dele nas copas seguintes e nas etapas seguintes de minha vida.

1998 – Copa do Mundo da França
Com certeza, trata-se da minha maior decepção esportiva. Assistir à final que deu o primeiro título à França, após ganhar do Brasil por 3 a 0 em jogo atípico foi de matar. Novamente e curiosamente, pude ver a Copa inteira apesar de já estar cursando Ciência da Computação em Campo Grande. Bem no período da Copa – será coincidência?? – os professores e funcionários da universidade estavam em greve já havia algum tempo e eu estava em Costa Rica aguardando o retorno das atividades. Obviamente, as aulas só foram retomadas depois da Copa – ainda bem. Neste período entre-copas muitas mudanças em minha vida, já que além de já estar fazendo universidade em 98, havia saído da casa de minha mãe para estudar ainda em 96 passando um ano em Penápolis, no interior de São Paulo, cidade natal da minha mãe e também da minha maninha. A vida adulta se avizinhava.

2002 – Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão
Ainda estava em Campo Grande, já vivendo a tal vida adulta. Havia me formado em 2000 e estava trabalhando em uma empresa de desenvolvimento de software, a NDS. Como a Copa ocorreu do outro lado do mundo, os horários dos jogos eram de madrugada ou bem cedos pela manhã. Resultado? Consegui, novamente, assistir a grande maioria dos jogos. Foi complicado mas muito recompensador já que assisti a mais um título do Brasil, em um grande jogo final contra a temível Alemanha, dois gols de Ronaldo que jogou muito neste mundial. Já que essa foi a primeira copa na Ásia, novamente deu Brasil. Perceberam o padrão? Quando a copa do mundo ocorre pela primeira vez em algum continente, dá Brasil. Ah, 2010 promete! Outra curiosidade, 2002 também viu a primeira copa realizada em regime de casamento, isto é, por dois países-sedes em conjunto. Foi também a minha última copa solteiro, já que…

2006 – Copa do Mundo da Alemanha
… eu me casei em 2006!!! Bem, tecnicamente, eu ainda assisti a copa apenas noivo da minha linda Dri, que conheci em 2003 na DigithoBrasil, outra software house de Campo Grande na qual ela estagiava no setor jurídico e eu trabalhava como analista de sistemas. Não foi amor à primeira vista – ao menos do lado dela – mas ao final de 2004, depois que eu saí da Digitho e voltei a trabalhar na NDS, sentimos muita falta um do outro e começamos nossa história juntos, que já completa 6 anos. Em 2006 eu estava em ritmo acelerado de trabalho – na NDS – e havia reingressado à academia fazendo meu mestrado na UFMS. Dessa vez, vi bem menos jogos do que gostaria mas a Dri acompanhava para mim os jogos que eu não podia ver e sempre me mantinha atualizado. O Brasil foi eliminado, novamente pela França (que martírio), que sagrou-se vice-campeã perdendo a final para a Itália. O fato é que nesses meus anos de copas o Brasil já perdeu para a França 3 vezes, logo tinha que haver algum segredo escondido e então eu tomei uma decisão!

2010 – Copa do Mundo da África do Sul
Vim para a França!! Claro que a motivação não foi, realmente, investigar os mistérios dos Bleus, como é chamada a seleção daqui, mas sim ingressar no meu doutorado e fazer parte de uma adorável equipe chamada Baobab. Hoje morando em Lyon, cidade com o mesmo fuso horário do país-sede, ainda tenho problema com os horários dos jogos, já que a Dri ainda não está aqui comigo e sempre estou de olho nos horários do Brasil. Neste período entre o final do mestrado e o início do doutorado adotamos duas filhas caninas, a Julie e a Meg. Logo, logo, as três vão se juntar a mim em nossa aventura francesa. Negociei com a minha chefe para fazer um horário alternativo no mês da Copa e acredito que poderei assistir à grande maioria dos jogos. Ao escrever esse texto notei como é impressionante os ciclos que nossas vidas dão a cada quatro anos…  outro pensamento que me passa é que escrevi tudo sem preparação, ao sabor das recordações. Portanto, é muito provável que à medida que o tempo passe eu me lembre de várias coisas que não foram mencionadas. Não por não serem importantes, certamente, mas sabe lá como funciona a memória. Estou certo de que se eu começasse novamente a escrever produziria um texto com várias diferenças e possivelmente outros fatos apareceriam. Ah, a Copa!? Vai dar Brasil!!

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