O primeiro caco

MEU REFLEXO EM UM CACO DE VIDRO

Estou transcrevendo aqui o meu primeiro texto nessa nova coluna que inauguro neste momento no meu blog. Na verdade os primeiros cacos já foram “publicados” em outro veículo anteriormente, por isso estou transcrevendo e não escrevendo. O título da coluna é ‘Meu Reflexo em um caco de vidro’ e eu não sei a periodicidade em que estarei machucando os seus olhos com minhas torpes palavras. Acho que escreverei sempre que os cacos em que meu reflexo está possam ser vistos perfurando minha pele e não a uma distância inatingível. E o que quero dizer com isso? Que não faço a menor idéia de quando vocês terão o prazer de me ver desfigurado, em pedaços e sem poder para restaurar-me com tamanhas imperfeições. Espero que seja bem freqüente.

Espero poder tratar de um tema diferente a cada vez que vier manifestar-me nesse meu espaço que acabo de criar. Ressalto que o espaço está aberto para que todos os vossos reflexos sejam também vistos enfincando-se dolorosamente em vossos peitos e que cada um de vós olhe para baixo e veja-se refletido matando-se de uma forma muito lenta e libere o que o vosso sangue está manchando para que todos possamos também manchar-nos. O convite está feito.

Hoje quero exaltar a razão, o pensar. Que coisa extraordinária essa que Deus nos proporcionou a de receber estímulos, armazená-los em nossa memória e utilizar esses conhecimentos adquiridos para alterar o mundo e o universo no qual estamos inseridos para podermos dar uma lógica às nossas vidas. Mudar a natureza é dar a ela uma ‘naturalidade cotidiana’ que somente nós, seres humanos, podemos compreender.

Falo por experiência própria que nem todos conseguem pensar mas todos são capazes
de sentir. Isso é uma exaltação a razão que eu ainda não havia tido uma inteira percepção até há poucos dias.

Digo que nem todos conseguem pensar pois eu mesmo sinto-me incapaz de entender milhares de coisas que eu ouço dizer que estão por aí e são ‘naturais’ para muita gente. Eu acho que o mundo está louco mas na verdade o louco sou eu. Louco ou incapaz, pois não consigo entender. Falta-me pensar, falta-me razão, falta-me lógica. Mas e de sentir, eu sou capaz? Sim, eu sou. Mas para isso não existe certo ou errado.

Esse é um outro ponto positivo. Pensar leva-nos a averiguações, é algo mensurável. Dizemos facilmente que alguém é mais inteligente do que outrem, mas é muito mais dificil dizer se o meu ódio é maior do que o seu, ou comparar desejo com raiva. Até as frases que dizem respeito a sentimentos são confusas se analisadas mais friamente, com o pensar (essa máquina que nos foi concedida). Vou pegar como exemplo a clássica frase: ‘ela está completamente apaixonada’. Sabemos perfeitamente que esta frase só pode querer dizer: ‘ela está apaixonada’, pois ninguém fica ‘parcialmente’ apaixonado. Mas o ‘completamente’ dá um toque de urgência, de necessidade que só é percebido pois existe um código interpretável (no caso a lingua falada) que causa a impressão de que sabemos exatamente como a pessoa está se sentindo. E sabemos? Será a minha paixão igual a de todos os outros? Isto nós nunca saberemos. Como descrever com palavras as sensações? Sentir é muito fácil e todos nós somos capazes, mas o pensamento, apesar de não ser possível a todos, não consegue compreendê-lo. Quando ouvimos frases do tipo ‘ela está apaixonada’ ou ‘ela o odeia’ fazemos uma análise do conceito das palavras ‘apaixonada’ e ‘odeia’ para entendermos como ela está. Mas o conceito é muito vago para que possamos saber de fato. O que fazer então? Comparar. Mas comparar com o quê? Com os nossos próprios conceitos de ‘paixão’ e ‘ódio’. Eu posso sentir um ódio mortal pelo meu vizinho e imaginar a tal pessoa-exemplo sentindo esse mesmo ódio. E é o mesmo? Ou eu posso sentir algo por alguém a que eu resolvi, dentre o catálogo de possibilidades, chamar de paixão. Será igual à paixão dela? Como posso ter certeza?

A que conclusão chego eu com esse falatório? Nenhuma. Não é esse o meu propósito. Não acredito que o que eu venha a concluir seja válido para vocês. Mas quem sabe incitar alguém a pensar sobre algo seja uma forma de despertar um novo pensamento ou ainda, quem sabe, um outro sentimento? Eu posso conduzir o pensar de alguém com uma boa linha de raciocínio mas pergunto: como provocar sentimentos em alguém?

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