Razão, emoção e confusão

Razão, emoção e confusão

É comum as pessoas dizerem, ao receberem um pedido para que descrevam a si próprias, que são pessoas predominantemente racionais ou, ainda, o outro extremo, indicam que são dominadas pela emoção. O fato é que essa bipolaridade entre razão e emoção requer que tomemos partido, é um Brasil x Argentina em que não parece haver espaço para o empate. Afinal, você leitor, é predominantemente racional ou emocional?

No fim das contas, o que significa ser racional? Em muitos casos, há uma conotação negativa, uma frieza junto com um visão de incapacidade de empatia que são associadas ao rótulo. Como se diante de uma situação qualquer que se apresente, a atitude de parar alguns instantes, refletir um pouco sobre as possibilidades e alternativas e suas consequências, medir riscos e atuar baseando-se no resultado dessa análise, fosse algo ruim. Eu, pelo contrário, acho não só algo bom como extremamente recomendável.

No fim das contas, o que significa ser emocional? Em muitos casos, há uma conotação negativa, um “coração-molismo” junto com uma visão de que as pessoas agem com um impulso incontrolável que são associadas ao rótulo. Como se diante de uma situação qualquer que se apresente, levar em conta em primeiríssimo lugar as pessoas envolvidas e seus sentimentos, agindo imediatamente ou, se a situação permitir, com algum recuo para deixar o impacto da emoção assentar-se, fosse algo ruim. Eu não vejo assim, acho extremamente válido ouvirmos o corpo e suas reações. O instinto nos diz muito, um frio na barriga ou uma vontade incontrolável e inexplicável também. Tudo isso deve ser levado em conta, creio.

A emoção é um sistema não-pensante para tomada automática de decisão. E é um sistema poderoso que fez com que a grande maioria das espécies conhecidas atualmente tenham chegado até aqui. Precisamos dele e negligenciá-lo seria uma burrice. E um ser racional deve evitar fazer burrices.

Nesse assunto, como em quase todos, é o equilíbrio que parece ser a dose certa para a condução suave de nossas vidas. Reconhecer a predominância de razão ou emoção – e essa predileção existe – devia servir apenas como guia para direcionar aquilo que precisamos trabalhar em nós mesmos.

Mas para falar a verdade, o que eu quero mesmo é resgatar a terceira palavra do título dessa coluna: confusão. O que eu gostaria mesmo é de responder, quando perguntado sobre como eu me definiria, “confuso”. Isso mesmo, eu queria dizer que eu sou confuso e ponto final. Nem um, nem outro. E sem um terceiro valor para substitui-lo, sem essa de dizer que busco um equilíbrio, para soar mais especial do que realmente sou. Eu sou apenas mais uma pessoa confusa diante de um mundo complicado e de pessoas perdidas e tão ou mais confusas do que eu. E assumir que sou confuso, que não tenho certezas, que não pertenço a um nem a outro polo, que não sei como agiria em (quase) nenhuma situação é algo libertador. Simplesmente permite viver o momento, racionalizando os sentimentos, ou sentindo a razão tomar conta de mim. Misturando isso e aquilo e apenas sendo eu mesmo, que é o que realmente importa.

Feliz 2014, convido a todos para muita confusão nesse ano novo que começou!

Publicado originalmente aqui.

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