Red Bull e a hipocrisia americana e global
Um amigo comentou comigo que a Red Bull, empresa de bebidas energéticas, sofreu uma ação coletiva, nos EUA, acusando-a de propaganda enganosa. O slogan da marca é “Red Bull te dá asas”. Para evitar custos processuais elevados dada a complexidade e alcance do caso, a Red Bull optou pelo pagamento de um valor acordado de 13 milhões de dólares para fechar a ação. O caso foi notícia também em nosso noticiário econômico, como pode ser visto nesta matéria da revista Exame.
Eu acho que a empresa fez muito mal em fazer esse acordo. Acho que a melhor solução para o caso era providenciar modelos de asas – e para os americanos talvez até uma cauda de pavão fosse bem-vinda – e oferecer implantes nas costas de todos os que aderiram à ação. É isso, a empresa deveria levar seu slogan mais ao pé da letra ainda do que os próprios espertinhos, tão comuns no sistema jurídico americano, que a processaram. Bastaria produzir algumas centenas de milhares de asas e uma clínica de implantação e propor esse acordo aos clientes incomodados: basta agendar um horário e a gente te dará asas.
Se não for assim as empresas terão que veicular, ao menos nos EUA, versões muito precavidas de seus comerciais. A partir de agora, ao final da propaganda, o slogan vai aparecer “Red Bull te dá asas… ou não, vai depender, pode ser que sim ou que não, mas se você não sentir nada de diferente isso é perfeitamente normal”. O que me lembra dos casos recentes dos escândalos de storytelling dos sorvetes Diletto, dos sucos Do Bem e de tantos outros que criaram uma história cheia de invenções para ajudar a atrair consumidores. Ah, se fosse nos Estados Unidos…
A Red Bull me parece uma vítima frequente dos espertalhões tanto de pequeno porte – como esses da ação americana – quanto por gente de outro calibre, como a Rede Globo. Afinal, a empresa investe no esporte não apenas com patrocínio, mas também montando times próprios para competir – o que tem tudo a ver com o lema da empresa, de oferecer mais energia e melhor desempenho. Por conta disso, ganhou quatro vezes seguidas o campeonato mundial de Fórmula 1, algo muito difícil! Empregou muita gente, direta e indiretamente. Para que? Para ter seu nome associado a esse sucesso, é claro. Mas, para a Rede Globo, durante as narrações, a equipe Red Bull era chamada de RBR. Um crime, motivado por aspectos mercadológicos e que ferem o jornalismo esportivo e, mais ainda, o investimento feito no esporte. O mesmo aconteceu agora no campeonato paulista de futebol, em que o time do Red Bull com sede em Campinas foi chamado de RB Brasil. E isso acontece não apenas com a Red Bull, é claro, mas com várias outras marcas que já se aventuraram a investir no esporte com maior profundidade do que apenas estampar a marca no macacão do piloto ou na camisa do jogador.
Este 171 não é patrocinado e minha indignação é legítima. Fico incomodado com a hipocrisia das pessoas e das corporações. E queria muito ver um monte de americano, de sorriso amarelo na cara e com camisas estufadas em suas costas devido às suas novas e exclusivas asinhas implantadas, cortesia da RB.
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