Reflexões sobre uma manhã triste

Dia desses acordei e ouvi a seguinte pergunta em minha sonolenta cabeça: “Você está bem ai, não é mesmo?”.

Em minha cabeça estar bem não é mal. Mas a frase soou quase que em um tom acusatório.

Mas, mudando um pouco de assunto,  o que levam duas pessoas, no mundo de hoje, a ficarem juntas? É claro que a motivação para tanto não pode ser o fato de uma delas estar mal e nem o fato de a outra estar bem… isso seriam motivos não muito honestos para unir forças. Mas acontece.

Imaginem uma pessoa, adulta, dona de seu nariz, independente, profissionalmente estabelecida e com situação financeira estável. Além disso, mantém uma boa rede de amigos, uma vida social ativa e uma vida amorosa saudável, mas que não seja casada. O que falta a essa pessoa para que ela decida juntar as escovas de dentes com sua companheira(o)? E por que ela deveria fazer isso?

Na minha opinião, a explicação para alguém se casar (no sentido de passar a morar junto com seu companheiro e com ele dividir a experiência de viver) passa por um lado pelo desejo do permanente, do duradouro e, por outro, pelo conceito de família. É difícil pensar em filhos se não for para vê-los crescer, participar de cada pequeno momento desse crescimento e prepará-lo para a vida adulta da melhor maneira que formos capazes de fazer. Esse processo todo dura pelo menos 17 anos ou, principalmente nos dias de hoje, muito mais do que isso. E ainda que ter filhos não esteja nos planos do casal, apenas ter uma família para chamar de sua já é motivador o suficiente.

A explicação para alguém querer se casar passa também pelo amor. Ao menos nos países ocidentais, os casamentos tradicionais e arranjados entre as famílias são coisas do passado e hoje em dia casa-se quando assim deseja-se. Há ainda as exceções dos casamentos forçados por uma gravidez imprevista. O que ironicamente leva ao mesmo motivo que apresentei anteriormente, o de ter uma família, mas de uma maneira torta.

Amor e desejo de construir família não são, contudo, suficientes e nem necessários para que um casamento funcione. Explico. Há casamentos sem amor que funcionam, já que há respeito entre o casal e a relação é azeitada, sendo mais dinâmica, simples e até prazerosa para os dois viverem juntos do que seria separados. Claro que o significado exato do verbo “funcionar” na frase anterior pode ser questionado, visto que para muitos o “funcionar”, neste contexto, deve passar pela existência do amor. Contudo, há também relacionamentos em que as duas pessoas se amam e até querem ficar juntas, mas que a rotina e as diferenças de personalidade podem fazer com que a vida a dois fique longe do conceito de paraíso.

A pergunta permanece. Por que duas pessoas deveriam ficar juntas para o resto das suas vidas? Essa escolha fecha tantas possibilidades quanto abre outras e como decidir qual dos dois caminhos é o melhor para se seguir?

Não tenho resposta para uma pergunta tão difícil mas o meu ponto aqui não é respondê-la. Minha vontade é apenas a de pontuar o quão complexo algo tão simples pode parecer e afirmar poucas coisas que julgo saber a respeito. (1) Esse tipo de decisão deve ser tomado quando estivermos bem com a gente mesmo. Só assim seremos honestos conosco quanto aos reais motivos de estarmos decidindo o que quer que seja e (2) por mais que racionalizar, pensar, entender, pesar cada pequeno detalhe sejam processos de extrema importância em busca do auto-conhecimento, esse tipo de decisão não é lógico. Devemos deixar a intuição, a nossa vontade nem sempre manifestada agir e ter um peso. Só assim não correremos o risco de vivermos absolutamente coerentes, mas manchados por arrependimentos e amarguras.

Um outro ponto é que eu começo a achar que os conceitos para os quais damos nomes, tal como amor e respeito pelo próximo, não querem, no fundo, dizer muita coisa, já que cada um interpreta essas palavras da maneira que julga melhor. É fácil dizer e ouvir “eu te amo” ou “eu sempre procurei te respeitar”, mas o que isso quer realmente dizer?

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