Revendo os começos…

Revendo os começos…

Começou assim: eu estava no voo de volta à América do Sul e olhando a lista de filmes disponíveis no módulo de entretenimento do avião. Notei que haviam dois filmes que, quando eu assisti no cinema, havia chegado atrasado na sessão e perdido os minutos iniciais. O Hobbit e Populaire. Queria ver o prólogo do filme de Peter Jackson, não havia ainda conferido o ataque de Smaug à cidade dos anões. Queria ver o início de Populaire e entender como a personagem principal conseguia o emprego que mudaria sua vida. Fiz uma coisa e outra, além de depois encontrar tempo para assistir mais dois inéditos. Porém, este farelo é sobre a reflexão que o fato de assistir a esses prólogos me despertou.

A primeira constatação foi a de que negligenciamos os começos, exceto quando as coisas ainda não começaram. Explico-me. A excitação pelo novo e suas descobertas é inegável. Cria-se uma ansiedade, um frio na barriga. A força da antecipação faz com que nos sintamos extasiados pelas infinitas possibilidades. Será que vai começar da forma como imaginamos? Por que será que os anões precisarão de uma aventura para recuperar seu lar? Pois bem, uma vez que a aventura está lançada o ponto de origem vai se afastando e, por vezes, passa a ser desimportante ou, ao menos, muito menos intenso do que antes parecia ser. O curso passa a ser tudo o que importa. Em uma montanha-russa, vivemos intensamente o antes… mas nos esquecemos dele rapidamente a cada curva ou descida em queda livre. E assim é com quase tudo.

Isso pode até parecer verdade. Parece? O fato é que não é. Negligenciamos as importâncias dos começos. Em muitas situações há variadas formas de se começar e é essa escolha (ou destino) que determinará o final que encontraremos. Em uma jornada, tomamos uma estrada e uma vez iniciados os passos, a caminhada pode até levar a diferentes paisagens e destinos distintos, mas nunca mais alterará seu ponto de partida.

A segunda constatação a que ver inícios de filmes cujos finais já conhecia me levou é que eu tenho vivido muitos finais mas também muitos começos – ou ao menos estou mais atento a eles. Descobri, nesse processo, e tenho repetido exaustivamente desde então, que no fundo não há finais e nem começos. O infinito é circular. As marés vão e voltam mas nunca se sabe se estão indo ou voltando. Para isso precisariamos saber se afinal o seu destino é a calmaria do porto seguro, das areias e da terra firme ou a imensidão sem fim, bravia, revolta e irriquieta dos confins do mar? Sem saber para onde estamos indo, só podemos afirmar que há movimento, mas não sua direção, se para frente ou para trás.

A vida segue uma linha do nascimento até a morte, é verdade. Mas a forma como vivemos a vida não. Podemos ser crianças aos 40 ou adultos aos 10. Podemos ser velhos aos 90, mas não há limites para sermos quem somos hoje e sempre. E, dessa forma, não há limites para nada mais. Portanto, dos vários fins que digo estar vivendo e dos vários outros começos que digo estar notando, misturo-os em uma única coisa e batizo-a de minha vida no dia de hoje, 21 de abril de 2013. Se amanhã me reservarem novos começos, novos fins, pouco importa… será apenas a minha vida no dia de amanhã, 22 de abril de 2013. E assim seguirei, sem fins, começos ou meios até o dia em que não mais contarei. E cada dia será uma vida em si.

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