Sete dias em sete leitos

Sete dias em sete leitos

Vida anda agitada ultimamente! No momento em que este texto for publicado estarei desfrutando merecidas férias, conhecendo com amigos os deslumbrantes cenários naturais do nosso vizinho Peru. Maravilhas da tecnologia, escrevo do passado e não vejo a hora de presenciar esse futuro que está logo ali.

Mas o cotidiano observado durante as férias fica reservado para um próximo texto, aqui vou falar do ano de 2013 sob a perspectiva do que chamamos de lar. Esse ano tive que me fazer essa pergunta por diversas vezes. Vejam vocês, suspeitosos leitores, que eu iniciei janeiro habitando a mesma casa que habitava desde 2010. Havia ai uma sensação de conforto, de estabilidade. Mas 2013 não estava para brincadeira, ele havia sobrevivido ao fim do mundo de 2012 e então resolveu botar para quebrar… bom, ao menos o meu 2013 foi assim. 

Eu sabia que aquela estabilidade não iria durar. Tinha data para me mudar. E não era uma mudança simples. Concluía um longo período iniciado anos atrás, era o fim do doutorado, era o fim da experiência de morar fora do Brasil, era a hora de retomar a vida, de me restabelecer em meu país de origem. Para tornar as coisas mais fáceis – nunca é fácil mudar seja de uma esquina para a outra, imagina de um país para outro – eu dividi o ano em três partes: a primeira em que continuaria onde estava, a segunda em que eu estaria de volta mas em fase preparatória para a terceira, na qual de fato eu me instalaria em uma nova cidade. Tudo muito lógico, tudo muito racional.

Eram três fatias de 4 meses cada. A primeira, obviamente, transcorreu exatamente como previsto, era a mais simples delas, bastava continuar como estava, com o acréscimo dos preparativos para a volta: vender as coisas, resolver burocracias. A segunda além de ter seguido o roteiro foi muito prazerosa. Passei dias com minha irmã, outros dias com meus amigos e alguns meses com minha mãe, em várias cidades diferentes e com muita agitação e empolgação, muito motivados pela longa ausência, a saudade, a vontade de estar juntos! Nesta segunda fase decidi-me por viver em Campinas e consegui fazer a locação de um imóvel para mudar-me para cá. Estou agora vivendo a atribulada terceira fatia.

Ocorreu um episódio engraçado neste segundo período. Comprando um presente para o dia das mães em uma loja, a atendente me pergunta: “Mas você mora onde?”, para saber se eu preferia despachar o presente ou levar eu mesmo. Eu não tive como evitar a resposta verdade: “Eu não moro em lugar nenhum”. E foi uma resposta libertadora.

Na semana da minha mudança começa a saga que dá titulo a esse 171. Eu tinha bastante bagagem para trazer. Vim de ônibus para poder transportá-la por completo e a um preço mais acessível. Era um domingo e eu “dormi”, portanto, em uma poltrona de ônibus. No dia seguinte, como minha cama ainda não havia chegado, fui para a casa de amigos e dormi por lá. Na terça e na quarta-feira, tinha reunião de negócios em Sâo Paulo e portanto dormi por lá, na casa de outro amigo, de terça para quarta. Como minha cama chegaria na quinta pela manhã, optei por dormir em casa na quarta. O leito? Um improvisado tapete recoberto com um edredom. Da água para o vinho, na quinta dormi em um minha cama novíssima. Na sexta, viajei para Salvador para assistir a concertos musicais – um hábito que aprecio. A cama do hostel no Pelourinho foi então mais um leito que recebeu meu corpo cansado e minha mente fervilhando de entusiasmo. 

Toda essa experiência saltitante, de ir para lá e para cá, de querer viver todos os estímulos, de não querer ficar parado um único segundo que seja, cobra o seu preço. Quase não tenho mais tempo para repousar e o corpo cansa, pede arrego. Mas viver para mim é isso: manter-se entusiasmado, seja com as notas musicais que chegam ao seu ouvido seja com o silêncio do repouso, com aquilo que você precisa a cada momento. Pois um lar é muito mais do que uma casa onde ficam móveis. Um lar é onde nos sentimos bem. E eu, hoje, sinto-me bem onde quer que eu esteja. Em cama nova, no tapete, em poltrona de ônibus ou em beliche de hostel. Meu lar sou eu mesmo e eu vou comigo aonde eu estiver!

PS: Eu sei que são 5. E essa coluna se chama 171…

Publicado originalmente aqui.

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