Sobrecarga

Sobrecarga

O que fazer com uma rotina de 11 horas de trabalho por dia, 7 horas de sono e outras 6 para comer e um pouco de lazer? Eu gosto bastante do meu trabalho. Eu adoro viver intensamente a vida familiar e com os amigos. Eu tenho interesses demais, por artes, por cultura, por ideias. Mas, vale também para mim, o dia continua tendo apenas 24 horas e a semana apenas 7 dias sendo que só 2 deles são “de folga”.

A verdade é que meu jeito de viver não vai durar e por um motivo bastante simples, ele não pode durar muito. O mais inacreditável é notar que, apesar de já ter ciência disso, eu tenho me entupido ainda mais de coisas. Novas responsabilidades no trabalho que já tenho e ainda a busca por mais trabalho. Pilhas e pilhas de revistas que eu quero ler e que, por conta disso, eu continuo comprando. Por conta da falta de espaço para guardar as revistas, acumulam-se as horas de arrumação e os planos de reorganização ou até expansão da área útil disponível no lar. Ao mesmo tempo que não consigo deixar de ver a agenda esportiva do ano, incluindo a atualmente desinteressante fórmula um e os grand slans de tênis, eu mantenho a assinatura tanto da TV paga quanto do Netflix e por conta de Westworld já estou cogitando assinar HBO… Isso sem contar que estou louco para aprender de verdade a tocar violão e ukulele, instrumento que não toco, mas uso para compor… agora só falta colocar as letras nas minhas músicas.

Ah, e não podia mesmo faltar. Tem o próprio Esfarelado. E quem acha que este pobre blog, que hoje me ocupa quase que só quinzenalmente quando venho aqui rabiscar algo para a coluna 171 que divido com a Vanzinha, está também nos meus planos para ter mais e cada vez mais ainda. Comecei a pensar bastante no que meu pai estaria fazendo nos dias de hoje. Ele era um ator amador, um inconformado político e um comunicador eficiente. Espero ter herdado ao menos algumas dessas virtudes. Um pouco como que em homenagem a ele – e também para justificar o talento da minha sobrinha – eu vou começar a fazer vídeos para o Esfarelado, criando assim o canal do Youtube do blog…

Nada disso que eu falei, é óbvio, faz com que eu não queira dedicar cada minuto à família, aos amigos, aos bate-papos, às sessões de jogatina com os jogos de tabuleiro que eu adoro, às viagens, para perto ou para longe. Eu e a minha esposa quase nunca falamos não a um convite. Vamos onde somos queridos e, graças a Deus, convites não tem faltado. Já o tempo para tudo isso, ah, esse falta sempre.

Estou sobrecarregado, tenho que admitir. Mas é muito difícil falar não para algo que queremos tanto fazer. E tem mais tantas coisas que eu também queria e nem citei aqui. Eu sou interessado pelas coisas, por quase todas as coisas. É um defeito, não sou tão seletivo quanto eu poderia. Quero saber de tudo. Quero fazer de tudo. E prefiro priorizar as coisas, criar listas, encadear desejos… e fingir para mim mesmo que vou dar conta de tudo. Mas, no fundo, às vezes eu me dou conta de que não dou. Esse momento é um deles.

A realidade é que tenho mais livros do que vou conseguir ler. Tenho mais amigos do que consigo manter contato assíduo e satisfatório (ao menos para mim). Tenho mais trabalho do que dou conta de entregar. Tenho mais vontades do que consigo saciar.

O que ainda me faz continuar ao invés de romper com este jeito de viver é que sou feliz! Sobrecarregado, sem dúvidas, mas me equilibrando entre isso e aquilo, girando pratinhos e tentando não deixar o “de hoje” cair e se quebrar. Carpe diem. Mas sei que isso também é questão de energia, de gás. Estou com 38, ainda consigo queimar um pouco de lenha. Mas estou vendo a hora em que ser mais seletivo vai ser obrigatório. E aí não tem jeito, o que é importante tem que ser realçado e o que é supérfluo ou apenas desejável, vai ter que ficar de lado. De que lado está o Esfarelado?

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Paulo Farelos

Deixando alguns farelos para seguir meu caminho… com essa frase, inspirada em conto infantil essa frase marcou o início do projeto Farelos de Pensamento. Este espaço agora não guarda mais apenas pensamentos soltos mas também todos os meus textos que antes estavam espalhados por aí, em meu outro blog, no qual não vou mais escrever e de onde, aos poucos, vou puxar todo o conteúdo também para cá. Mas aqui também vão ter minhas resenhas para filmes e trailers, as minhas crônicas e textos, meus podcasts, meus vídeos. Assim, como meus interesses culturais passeiam pela literatura e os quadrinhos e se concentram com mais força em música e cinema pops, ainda que o circuito de arte também me desperte interesse, então os farelos de pensamentos passaram a ser farelos de qualquer coisa, pois vivo muito de blá-blá-blás e outras amenidades diversas. Um farelo para cada um desses momentos. E o caminho segue. E há tantos caminhos possíveis.