Star Wars V – O Império Contra-Ataca
Como é que um filme basicamente de fuga e perseguição consegue ser tão bom? Foi essa a pergunta que ficou na minha cabeça após rever este Star Wars: O Império Contra-Ataca (Star Wars V: The Empire Strikes Back, de Irvin Kershner), o primeiro filme até aqui não dirigido e nem roteirizado por George Lucas, que contribui com o argumento e no papel de produtor executivo.
Após os eventos do filme anterior que culminaram na destruição do mais importante artefato bélico do Império Galáctico, a Estrela da Morte, Luke, Leia, Han Solo, Chewbacca e os rebeldes estão acuados e sendo perseguidos por todo o universo. E é isso! Mas somos então presenteados com vários momentos icônicos da saga e da própria história do cinema. É aqui que vemos o incestuoso beijo de Leia em Luke e o jogo de gata e rato entre ela e Solo. É aqui que Yoda faz o treinamento jedi mais “Sr. Miyagi” já visto, com direito a Luke plantando bananeira com o bonequinho de Yoda equilibrado em seus pés e levitando pedras e o próprio R2D2 para aprender a controlar a Força. É aqui que vemos os gigantes encouraçados-terrestres (AT-AT) em ação e o heroísmo e liderança de Luke postos à prova, tanto pilotando um X-Wing e enlaçando as “patas” do veículo quanto depois explodindo um deles em ação solo depois de ver sua nave abatida. É aqui ainda que vemos a Millenium Falcon ser engolida por um verme gigante que se alimenta de sei lá o que em um asteroide no meio do nada. Mas, acima de tudo, é aqui que Darth Vader faz a revelação mais manjada do cinema, ao assumir a paternidade de Luke e decepar sua mão tal qual havia tido a sua ceifada em combate com Obi-Wan Kenobi.
Na verdade, as aparições de Obi-Wan são o elemento novo da saga até aqui e tem uma importância maior do que pode parecer. Criam inconsistências óbvias com os filmes que vieram depois, já que a existência de Qui-Gon Jinn claramente não havia sido imaginada, já que aqui mais de uma vez sugere-se que foi Yoda quem treinou Obi-Wan. Mas elas também tornam a Força um elemento mais místico do que eram até a “morte” de Kenobi no filme anterior. Afinal, até ali, a Força era o universo, o todo, a energia que une todas as coisas, um deus panteísta. Mas à medida que Kenobi morre e não se vai, mantém sua consciência e é capaz de fazer aparições e interferir nos destinos dos personagens, mandando Luke para o treinamento com Yoda e depois tentando demovê-lo de desistir do treinamento para ajudar seus amigos em perigo, a Força parece necessariamente ganhar um aspecto transcendental, místico e até religioso. E o fato de Kenobi ter sido sentido e ter dialogado também com Yoda invalida qualquer suposição de que Luke pudesse ser esquizofrênico.
Eu disse que o filme é simplesmente fuga e perseguição mas isso é uma meia-verdade. A verdadeira história do filme é a tentativa de corrupção de atração de Luke ao lado negro da Força por parte do Império e, principalmente, de Darth Vader. E esse é exatamente o maior temor do próprio Luke, como bem ilustrado na interessante cena no pântano, em que ele tem que enfrentar seu maior negro, vê-se diante de Vader para abatê-lo e ver então seu próprio rosto aparecendo na máscara negra caída ao chão. E isso não deixa de ser uma outra perseguição e fuga, mas agora no plano das intenções e do caminho a ser trilhado pelos heroicos personagens.
A trilha sonora continua impecável, John Williams é um monstro! Os efeitos visuais evoluíram muito e o filme explora mil e um cenários diferentes: mundos gelados, pântanos, cidades aéreas, chuvas de asteroides, naves gigantescas e tudo é exibido de maneira convincente. O elenco continua afiado e voltamos a ver Palpatine, o agora Imperador e é incrível a semelhança do que é mostrado aqui com o que tornou-se McDiarmid ao final da trilogia original.
O Império Contra-Ataca, poucos rebeldes são abatidos mas eles continuam acuados. Han Solo está congelado e a caminho de ser entregue ao seu credor Jabba, the Hutt, por Boba Fett, o caçador de recompensas. Luke, Leia e os droides estão juntos, mas isolados dos demais rebeldes. E Yoda está no planeta Dagobah, à espera de seu mais novo aprendiz para, quem sabe, fazer com que retornem os jedi.
Publicado originalmente aqui.
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