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Os quatro filmes mais recentes que vi nesta última semana não poderiam ser mais distantes entre si. Um adorável filme uruguaio-brasileiro sobre a visita do Papa João Paulo a uma pequena cidade uruguaia na década de 80, um filme pipoca de horror americano com a musa da nova geração Megan Fox, um novo clássico italiano e último filme do ator Massimo Troisi e um filme autoral e estiloso do americano Wes Anderson sobre uma viagem espiritual empreendida por três irmãos pela Índia. Registro com mais detalhes abaixo.

O Banheiro do Papa (El Baño del Papa) [4/5]
Dir. Enrique Fernandez e César Charlone.

O filme se passa na fronteira entre o Brasil e o Uruguai e retrata a triste e arriscada rotina das pessoas que vivem de traficar – em bicicletas e motos – mrcadorias do Brasil para os pequenos comerciantes do pequeno vilarejo uruguaio onde habitam. Uma grande oportunidade surge quando a cidade entra na rota do Papa João Paulo II e as pessoas vêem a possibilidade de conseguir uma renda extra aproveitando o fluxo de pessoas, estimado em algumas dezenas de milhares. O protagonista, Beto, tem a brilhante idéia de construir um banheiro e cobrar pelo seu uso e, para isso, precisa levantar algum dinheiro para realizar o investimento. O filme é bem-humorado, apesar do seu retrato de miséria e corrupção. O resultado final é agridoce. Por um lado, vemos que sempre há um lado positivo em tudo e que viver com esperança faz parte da vida daquelas pessoas e por outro, notamos como a realidade pode ser massacrante e limitando boa parcela da população apenas à sobrevivência. A religiosidade e a educação também são discutidas, de maneira subliminar, pelo enredo. Recomendo!

Garota Infernal (Jennifer’s Body) [3/5]
Dir. Karyn Kusama. Roteiro: Diablo Cody

Diablo Cody, roteirista de Garota Infernal, ganhou o Oscar pelo roteiro de Juno, seu trabalho anterior que é infinitamente superior. Neste, sobraram algumas ótimas tiradas aqui e ali mas que não salvam a trama de ser burocrática e previsível. Como Megan Fox é a serial killer da vez – ao invés de algum mascarado – o filme ganha ao menos um atrativo adicional. A melhor sequencia do filme é (spoiler) a explicação dada pelo líder da banda de rock dos seus motivos para oferecerem a garota ao demônio. “A concorrência hoje em dia está muito difícil para uma banda nova, com todas essas formas de divulgação, YouTube, MySpace, aparecer está cada vez mais complicado. A nossa melhor chance é mesmo fazendo um pacto com o demônio”. Hahaha. Outra muito boa é quando o “rapaz descolado” da escola convida a mocinha para ver Rocky Horror Picture Show, um clássico filme de horror e música da década de 70, e ela responde que não gosta de filmes de boxe. Esses são os diálogos em que Cody mostra a que veio, mas a serviço de um filme muito irregular.

O Carteiro e o Poeta (Il Postino) [4/5]
Dir. Michael Radford.

Eu esperava um outro tipo de filme, não sei o porquê. Achava que teria mais carga dramática e para minha surpresa vi um filme leve, muito agradável de se assistir e com ótimo humor. É gozado como às vezes fazemos uma imagem de algo (filmes, pessoas, etc.) baseado em tão pouco (títulos, aparência, etc.) e quando podemos de fato conhecer melhor notamos o quanto estávamos longe da verdadeira essência. Mas divago. O filme retrata o período de exílio do poeta do povo – e das mulheres (rsrs) – Pablo Neruda passado em um pequeno vilarejo italiano. Neruda é vivido com muito carisma pelo francês Philippe Noiret. Massimo Troisi, também co-autor do roteiro e em sua última interpretação no cinema, indicada postumamente ao Oscar daquele ano, interpreta Mario, filho de pescadores mas sonhador e amante das letras que ocupa o cargo temporário de carteiro particular de Neruda, responsável por diariamente levar as cartas recebidas pelo poeta. (Spoiler) A estória narra o envolvimento entre os dois personagens e como Neruda ajuda Mario a construir suas próprias estórias e também sua própria história, ao criar um estratagema para aproximá-lo de sua recente paixão, a bela Beatrice. Só não dou 5 estrelas ao filme pois acho que ele perde o ritmo após o casamento e a partida de Neruda e termina em um anti-climax, apesar de no entanto apreciar os temas que são discutidos nessa parte final como a essência da amizade e da relação que existiu entre os dois e da importância de ser fiel aos seus próprios sentimentos. E é uma pena já que a sequencia em que Mario captura um pouco das belezas da Itália e de sua vila para enviar ao seu amigo são muito bonitas e tocantes. Recomendo!

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited) [3/5]
Dir. Wes Anderson.

Meu segundo filme de Anderson, antes já havia visto Os Excêntricos Tanembauns, do qual gostei muito mais. O filme é precedido por um curta – também melhor do que o filme – chamado Hotel Chevalier. Lá estão os melhores diálogos e o personagem mais interessante, Jack. E ainda ganhamos de brinde a presença de Natalie Portman, que só tem uma pequena aparição, sem falas, no longa. O longa retrata a jornada espiritual organizada por Francis (Owen Wilson, colaborador habitual do diretor) para reaproximar-se de seus irmãos Jack (Jason Schwartzman, co-autor do roteiro) e Peter (o oscarizado Adrien Brody). A fotografia do filme é admirável, cores fortes, belos enquadramentos. A Índia é um país interessantíssimo e a viagem dos irmãos pode ser qualificada de qualquer coisa, menos espiritual. Consumistas, arrogantes, egoístas, mimados, eles não conseguem confiar um no outro, não conseguem se interessar uns pelos outros ao ponto de em determinada passagem um deles questionar se caso não fossem irmãos conseguiriam ter algum tipo de relacionamento. (Spoiler) A participação de Anjelica Huston como a mãe é reveladora, mas o filme não decola. Jack, como disse antes, é o personagem mais carismático e tem os melhores momentos do filme como o seu envolvimento com Rita, a atendente do trem que batiza o filme, e os seus contos que, ao serem lidos por seus irmãos, sempre trazem momentos de suas próprias vidas ao que ele complementa “não, os personagens são fictícios”.

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