Na semana da independência… o momento do Brasil!
Na véspera do dia de nossa independência, eu fico pensando no Brasil e nos brasileiros… quem acompanha este perfil viu que eu parei de postar minhas reflexões. Foi um pouco de cansaço e um pouco de sentimento de que isso não serve para nada. Ninguém quer pensar, poucos respeitam opiniões diferentes e sobram convicções e paixões em assuntos que exigem racionalidade.
Eu continuo achando Bolsonaro um enorme retrocesso. Ele e seu governo são péssimos, ainda que seja possível, com cada vez mais esforço, achar um ou outro acerto aqui e ali.
Pronto. Se você é eleitor do Bolsonaro e leu o parágrafo acima, já acabou. Você já está armado e tudo o que vier daqui para frente não será mais lido de forma racional. Você só quer ver se eu vou apresentar algum argumento, citar algum “intelectual de esquerda”, falar algo que possa ser desmentido para então fazer exatamente isso, atacar as pessoas ou artigos citados, seja aqui abertamente ou apenas em sua consciência, provar que eu estou errado e que você está certo.
Mas não se trata só disso. Isso é só parte do problema.
Obviamente que quando a gente assume que “um lado” ou alguém está sempre certo, em tudo que faz, já estamos errados. Ninguém é perfeito, né?
Mas quando se trata de política, no Brasil, isso parece não se aplicar.
Petistas ficaram defendendo o indefensável em boa parte das discussões, em especial no fim do primeiro mandato Dilma e dali em diante, e agora os bolsonaristas fazem o mesmo. É muito boa vontade com os Bolsonaro – por mais que você o tenha eleito – aceitarem a propaganda do Governo de que finalmente vivemos um governo sem escândalos, sem corrupção e irretocável. Adotaram o seu político de estimação e estão repetindo os mesmos erros que condenavam. Aqui é Fla x Flu.
Então, quando em uma discussão, as pessoas estão fechadas para outros pontos de vista e novas reflexões ou formas de abordar os assuntos, não estão dispostas a eventualmente perceberem que há erros e acertos em seus pontos, se veem na posição de terem que defender cegamente, talvez para “não fraquejar”, não “dar força para o inimigo”… ai o jogo já está perdido. Para os dois lados.
Teria que ter mais empatia, mais respeito, sabe?
Desejar a “destruição” do inimigo não é o caminho para um país melhor.
Se eu pudesse pedir uma única coisa para os eleitores do Bolsonaro não é nem que eles mudassem de ideia. Era que eles respeitassem os opositores do Bolsonaro, respeitassem mais as diferenças, os outros seres humanos que podem talvez ter outros pontos de vista sem que isso os torne “inimigos”. Que eles inclusive lutassem pelos direitos deles. O Brasil é de todos e perseguir as pessoas pelo que elas pensam ou defendem é um erro enorme. E vai gerando o apartheid.
Diz a lenda que quando Mandella assumiu a presidência da África do Sul, depois de um longo regime de segregação, parte de seus apoiadores queriam um regime de opressão à minoria branca no país. Mandella sabiamente respondeu que isso os igualaria e que eles deveriam respeitá-los e tratá-los com igualdade, como gostariam de ser tratados.
É simples, é bonito, mas é difícil de praticar.
É difícil de praticar por quem está por baixo. A esquerda faz também muitos ataques “ad hominem” (à pessoa e não aos argumentos), muitas ofensas desnecessárias.
E é difícil – e ainda mais necessário, na minha opinião – para quem está por cima. Caberia, neste momento, à direita que está no poder, que ganhou as eleições passadas, mostrar como é o país que querem construir. Não só para si, mas para todos.
A impressão que eu tenho no discurso oficial e no dos seguidores é que eles querem segregar, separar e até “matar” quem não apoia o governo, quem fala mal. Atacam e perseguem a “esquerda”, “os comunistas”, a Globo, o Felipe Neto, o Adnet, o Lula, a Dilma, o Haddad, o Boulos, enfim, qualquer um que seja contra o governo. E pior, qualquer um que fale mal do governo ou que desconfie que possa ter algo não muito agradável com relação àqueles esquemas dos Bolsonaro com milícias, desvios de dinheiro, depósitos estranhos…
Mas não é por ai. É importante que haja fiscalização, contraponto, críticas. Elas deveriam ser apuradas. Tem uns escândalos financeiros que obviamente interessam a todos que sejam apurados – mas a galera da “verdade vos libertará” não larga o osso do segredo de justiça e foro privilegiado. Tem a condução da pandemia, na minha opinião boa parte das 130 mil mortes poderiam ter sido evitadas e todas elas não precisavam ter sido minimizadas ou ridicularizadas. Tem as queimadas na Amazônia. Tem a falta de ministério de educação, cultura, economia e meio-ambiente. Tem a própria agenda econômica liberal, que é importante que haja um debate.
Não adianta e não é saudável querer calar. Teria que querer debater, conversar, discutir, buscar o melhor para o país.
Outra coisa que obviamente deu errado no país é a reeleição. Elegemos um candidato para os primeiros quatro anos. Vale para todos. E isso é péssimo. Seria melhor um mandato de 6 anos diretos.
Além disso tudo, o que mais me assusta é o nível do debate, da politização.
Se perguntar para os direitistas, que acham que ser de esquerda significa ser corrupto, qual deveria ser o papel e o tamanho do estado, eu aposto que ouviremos bem mais de 50% deles respondendo que o Estado tem que ajudar a diminuir as diferenças (incluindo ai programas sociais de renda e moradia), aumentar a proteção ao trabalhador, nunca remover os privilégios do funcionalismo público e nem privado (CLT não pode ser mexida!), melhorar a qualidade da educação e da saúde para todos e etc.
Se perguntar para os “liberais” que elegeram Bolsonaro se as mulheres devem ter liberdade para abortar ou não (ainda que em casos de estupro, como no recente da menina de 10 anos – um dos que ocorrem a cada 15 minutos no país), se patrão e empregado podem ter liberdade para discutir as condições de seu contrato de trabalho (sem CLT, sem regras), se dois homens ou duas mulheres podem ter o direito de se casar e adotar crianças (em geral, abandonadas ou órfãs e sem perspectivas) e outras pautas progressistas, dirão que não, pois são conservadores.
Mas cadê as indignações com o caso Flordelis? Cadê as indignações com o caso Crivella? E se eles não fossem da “bancada evangélica”? É saudável misturar religião e política e, ainda pior, esses da religião que buscam a política, o fazem com que intenção?
Esse tal de “liberal na economia e conservador nos costumes” é uma jabuticaba muito bizarra.
É, eu sei que momentaneamente é o que temos. É desolador. É desesperador. É triste. E não tem sinais de melhora. Muito pelo contrário…