O Brasil está ferrado
O tal do “Bolsominion”, nome que foi dado aos fervorosos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, vem dos personagens minions, do filme Meu Malvado Favorito, que balbuciam coisas incompreensíveis, replicam atitudes e seguem cegamente. Daí também serem chamados de “gado” pelos seus detratores, algo que obviamente os enfurece.
O que eu acho particularmente irritante neles é que eles se fecharam de uma forma que é impossível entrar. Não há reflexão, não há diálogo. É muita defesa cega baseada muito mais em opiniões pré-formadas ou em declarações pessoais – e nem sempre isentas.
Acreditam que o Brasil era um antro de corrupção só por conta do PT e que ao tirá-lo do poder, algo feito em 2016, e colocar o atual presidente lá, tudo se transformou. Bolsonaro, para tanto, deve cumprir o papel de Messias. Ele deve ser infalível, dizer sempre a verdade, ser incorruptível. Se não for assim, terão errado. Então se veem na posição de defenderem-no em todas as atrapalhadas e confusas situações em que ele quase diariamente se coloca.
Acreditam ainda que todo o restante do país permanece corrompido e, logo, querem tirar Bolsonaro do Poder. Isso engloba qualquer um. Desde os óbvios partidos de esquerda, a Globo, a Folha de São Paulo, a Câmera dos Deputados, o Senado, o STF, a Polícia Federal, o Moro, o Dória. Qualquer um. É uma grande teoria da conspiração interminável. E como é assim que veem, sempre que há algo que parece errado, Bolsonaro apresenta a sua versão – em geral atacando mensageiros e não a mensagem – e começam a repeti-las. Nem sempre com muita reflexão.
Com relação a crise de saúde causada pela pandemia do Coronavírus, o presidente foi abertamente contra a quarentena, chamou a doença que já vitimou mais de 5 mil brasileiros (e esse número está bastante subnotificado e ainda vai aumentar bastante) de gripezinha, insiste em desrespeitar as várias vidas que ainda serão perdidas, trocou de Ministro de Saúde no meio da crise de saúde… e não porque ele estivesse agindo contra as melhores recomendações do mundo… depois gerou crise política no meio da crise de saúde. É terrível.
O próprio caso envolvendo a demissão de Moro é emblemático. Atacaram Moro, que era até então um baluarte da moral, muito rapidamente, mudando de visão sobre o super-ministro. Algo parecido já havia acontecido com Mandetta, ex da pasta de Saúde. Enquanto estão no Governo, são exemplos de ministros técnicos, capacitados, comprometidos com um projeto de novo Brasil. No dia seguinte a terem abandonado o governo do mito, transformam-se em demônios a serem perseguidos, traidores da pátria e que tais.
Vejo amigos bolsonaristas que dizem que não houve nenhum escândalo de corrupção no Governo desde que Bolsonaro assumiu. Em que país eles vivem? Laranjal nas eleições, dinheiro público pagando campanha de fake news, desvios de dinheiro do filho investigados agora por um “parça”, com a nomeação do novo diretor geral na PF, gastos dos cartões corparativos em almoços/jantares caríssimos nos EUA, fora inúmeros outros fatos de todos os tipos.
A dúvida que fica é o que seria capaz de fazer com que mudassem de ideia? Parece não haver limites. Bolsonaro já se mostrou despreparado, corrupto, machista, racista, homofóbico, desrespeitoso, vaidoso e mais uma infinidade de coisas tristes. Mas basta ele desmentir e pronto, vão dizer: “tá vendo, era mentira, era fake news”. Se surgirem provas, são forjadas. Se um depoimento aparecer na Globo, não precisam “nem ver”, pois é fake. E assim vão vivendo neste mundo ilusório em que o Brasil cada vez mais começa a se parecer com a Venezuela. Ironia pouca é bobagem.
Já era. Eu joguei os pontos. Não dá mais. Não tem como ser otimista – e olha que eu costumo ser bom nisso.
O problema nem é só Bolsonaro, apesar de ele ser um problema sério. Mais grave do que o tresloucado do Planalto são os seus seguidores, que mantém o governante com a popularidade em alta. E o Brasil que se ferre.
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