O decepcionante resultado do Oscar 2011
São raras as vezes em que o resultado da entrega do Oscar me desaponta profundamente. Curiosamente, em geral o filme premiado não condiz com minha escolha pessoal. Contudo os filmes envolvidos geralmente são bons ou ótimos e a escolha de um ou de outro é compreensível. Mais do que isso, se minha opinião tivesse algum efeito na eleição de melhores do ano muitos filmes sequer lembrados pela Academia passariam a aparecer em destaque.
Desde o ano de passado o Oscar passa a indicar 10 filmes – motivado por interesses mais comerciais do que artísticos. Este ano eu assisti apenas 4 dos 10 indicados (Cisne Negro, Bravura Indômita, O Discurso do Rei e A Origem), perdi A Rede Social que disputava com o filme de Tom Hooper a condição de favorito e também ainda não assisti Toy Story 3, O Vencedor, Minhas Mães e Meu Pai, 127 Horas e Inverno da Alma. Mas não duvido que depois de vê-los venha a gostar de todos eles mais do que gostei de O Discurso do Rei. Indo além, não duvido ser capaz de encontrar outros tantos filmes lançados neste ano (A Ilha do Medo, de cara, me vem a cabeça) que talvez pudessem ocupar o lugar do vencedor de 4 dos 5 principais prêmios desse ano no meu Top 10.
Dos 4 que vi eu daria o Oscar a Cisne Negro, fácil. Filme denso, com estilo visual marcante, trilha sonora fantástica – e não venham me dizer que isso é fácil já que o filme é centrada na adaptação do Balé Lago dos Cisnes de Tchaikovsky – e interpretações fascinantes. Não me refiro apenas a Natalie Portman pois todo o elenco de apoio está ora convincente ora fabuloso: Vincent Cassel como o artista sedutor e obcecado com sua arte, Elizabeth Hershey como a mãe opressora, Mila Kunis como a bailarina rival e personificação do lado negro do cisne e Winona Ryder como a bailarina que se vê tendo de deixar os palcos após o fim de sua gloriosa carreira.
É difícil sair indiferente de uma sessão de Cisne Negro. O filme apresenta a estória de uma bailarina, Nina (Portman), que tem a oportunidade de sua vida ao ser escolhida – em um ambiente competitivo como o de uma Cia. de Dança- para representar o papel central da nova adaptação do Lago dos Cisnes. Porém, apesar de dançar perfeitamente o papel do Cisne Branco – que exige leveza, técnica e arrisco-me a dizer: dedicação, obediência, conformismo – ela tem enormes dificuldades com o papel do Cisne Negro, que exige sedução, imprevisibilidade, desequilibrio. Um contraponto a sua própria personalidade. O filme narra então a sua busca por esse lado negro para atingir a perfeição exigida pelo papel. No processo tem que vencer seus próprios medos e travas enquanto se impõe frente a mãe repressora (a relação de devoção x rancor da mãe com Nina é um filme a parte) e subjugar a crescente presença de outra bailarina, Lilly (Kunis), mais apta para o papel do Cisne Negro.
Recheado de simbolismos e com final aberto a interpretações Cisne Negro é o melhor filme que vi recentemente. Dentre os que vi, A Origem receberia a medalha de Prata e o bronze caberia a Bravura Indômita.
E quanto ao Discurso do Rei gago, George VI, quais problemas tive eu com o filme? Bem, em primeiro lugar não consegui me envolver com os personagens, apesar de concordar que o trio central interpreta com excelência os papéis para os quais foram escalados, respectivamente o próprio rei (Colin Firth, ganhador do Oscar de forma merecida), sua esposa Rainha Elizabeth (Helena Bonham Carter) e o fonoaudiólogo/ator Lionel Logue (Geoffrey Rush) que aplica seus tratamentos não convencionais para preparar o rei para seus discursos.
Noto ainda que a interpretação de Firth é perfeita – estamos convencidos de que aquela pessoa é incapaz de produzir duas palavras em sequência de forma natural – e isso é crucial para que o filme funcione. Mas, ainda assim, não funcionou. Ao menos para mim. Acho que a oscilação de tom do filme entre o drama (que acho que seria o mais apropriado), humor inglês na forma de sarcasmo em diálogos (vá lá) e humor quase que pastelão (meu Deus!) sabotam o filme. Além disso, o roteiro edificante – bem ao gosto da Academia – é óbvio ao extremo sendo que podemos antecipar cada situação dias antes de elas acontecerem. OK, filmes não precisam te surpreender para serem bons. Além disso boa parte dos conflitos e personagens estão deslocados ou forçados ou pouco desenvolvidos (irmão do rei, família de Lionel, arcebispo “conselheiro”, Churchill) enquanto o desenvolvimento da relação entre o par central – o paciente e seu “médico” – apresenta-se insuficiente para justificar como, ao final, as barreiras são vencidas.
Por tudo isso, Discurso do Rei não merecia ganhar o prêmio de Melhor Filme do Ano. Trata-se de um bom filme mas longe de ser o melhor em 2010.
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