O Lobo de Wall Street

O Lobo de Wall Street

Assistir O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013, dirigido por Martin Scorsese) é uma experiência intensa. Antes de ir até uma sala de cinema para conferir a mais recente parceria entre Leonardo di Caprio e Martin Scorsese (depois de Gangues de Nova York, Aviador, Infiltrados e A Ilha do Medo) prepare-se para mergulhar em um mundo de perversão, obsessão por dinheiro e amoralidade, regado a muitas mulheres, bebidas, drogas das mais variadas espécies e um desprezo por qualquer valor humano que seja diferente do caminho do enriquecimento. E, neste sentido, a intensidade da experiência pode ser usado como um bom termômetro de como anda nossa própria relação com o dinheiro e com este mundo excessivamente capitalista que nos cerca.

O prelúdio do filme mostra um ainda inseguro novo corretor chegando em Wall Street. Jordan Belfort, em seu primeiro dia de trabalho, é recebido por um arrogante colega e pelo chefe “vida louca” Mark Hanna, que gerencia a corretora, personagem de vida curta na trama mas vivido de maneira fascinante por Matthew McConaughey. Neste mesmo dia, eles almoçam juntos e Belfort é apresentado às regras do jogo de Wall Street em uma sequência já clássica, que beira o absurdo e é ainda mais possante justamente por, depois, não mostrar-se nem absurda e nem elementos de um excêntrico qualquer. Aquilo era a realidade. E quando, mais adiante, acompanhamos o então aprendiz Belfort repetindo, no futuro, os ensinamentos ali recebidos, para seus próprios aprendizes, marcando muito bem no que o personagem se transformou, temos uma bela rima interna na narrativa.

Acontece que esse primeiro dia, em que Belfort aprende como deve se comportar para ter sucesso em Wall Street, é também o seu último dia na corretora pois tratava-se de um dia negro para o mercado de ações, o pior desde a crise de 29. Vendo-se casado e desempregado, com uma profissão sem qualquer perspectiva imediata de melhora, Jordan parte em busca de outras oportunidades e, quase que por acidente, envolve-se com o negócio que mudará sua vida para sempre: a venda de ações subprime (de companhias que não estão oficialmente na bolsa de valores) a investidores não convencionais, um mercado que ninguém explorava como ele viria a fazer, transformando-se em tempo recorde de ninguém em um milionário empreendedor, trazendo consigo um rastro de ganância e farra adolescente que demonstram ser uma combinação explosiva e perigosa. Soma-se a isso as pessoas que vai agregando no percurso: uma nova esposa (Margot Robbie, belíssima!), um braço direito que o endeusa (Jonah Hill), uma equipe de vendedores (de boteco) que ele treina e transforma em sua equipe de corretores, um contrafeitor pronto para algumas atividades ilegais como levar dinheiro de forma ilegal para um banqueiro na Suiça (Jean Dujardin), atividades que o colocam na mira de agente do FBI (Kyle Chandler) especializado em fraude fiscal e pronto, temos os ingredientes que vão permear a vida de Jordan dali para frente.

Di Caprio está irresistível no papel e merece sua indicação ao Oscar de ator, bem como o coadjuvante Jonah Hill, cujo papel lembra um pouco o que ele interpretou como parceiro (um pouco mais honesto) de Brad Pitt, em O Homem que Mudou o Jogo. Scorsese demonstra um vigor e um controle narrativo impressionantes, demonstrando que está longe da senilidade, mantendo-se ativo e em alto nível e garantindo para si, também, mais uma merecida indicação. A edição de Thelma Schumacher – parceira habitual de Schumacher – confere bastante fluidez à passagem do tempo e concilia muito bem o papel de narrador de Di Caprio, com comentários sempre sarcásticos sobre as situações que estamos testemunhando. Porém, apesar dessas pinceladas individuais, não há muito como não ser arrebatado pela película que mostra-se impecável em quase todos os seus aspectos, desde a trilha sonora divertida e irreverente, à direção de arte e figurinos, que mostram toda a ostentação da vida de Belfort. O único porém que considero é a duração do filme que poderia ser mais compacto, narrando com menos detalhes e mais fluidez a mesma história sem tomar para si as suas três horas de duração.

Na minha opinião esta não é a melhor das parcerias entre diretor e astro (na verdade, o nível dos 5 filmes é alto mas Infiltrados e A Ilha do Medo são meus preferidos) mas ainda assim é filme vigoroso, forte e que merece ser conferido no cinema. Apesar das suas merecidas indicações, não o vejo ganhando nenhum dos Oscars para os quais foi indicado.

Publicado originalmente aqui.

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