Quando alguém vai embora

Quando alguém vai embora

É claro que quando alguém decide ir embora, sempre há um motivo. E quando se vai embora sem data para voltar, já não importa o motivo, vai fazer falta. Faria falta ainda que a relação não fosse boa e faz ainda mais falta quando há tanto a ser construído, projetos já iniciados e que ainda não foram sedimentados, pessoas que acreditam tanto quanto nós e que confiam na gente para que as importantes transformações virem realidade. Quando alguém decide ir embora, sempre há uma história que não termina.

Todo abandono deixa um lamento. Mas por que as pessoas abandonam algo ou alguém? Eu vejo basicamente três motivações principais que colorem a maior parte das decisões desse tipo que são tomadas: ficar está muito ruim, ir será muito bom ou não se aguenta mais esperar parado por que algo aconteça.

Vejamos, o primeiro caso para que alguém decida ir embora é porque o fardo a ser carregado ficou grande demais à medida que o tempo passou, o que já foi bom não é mais – ou nunca foi, apesar da expectativa ou da esperança iniciais. São casos em que a pessoa investiu um tempo – 8 meses, 8 anos? – e não viu as suas necessidades e desejos cumpridos e decidiu que já era tempo de deixar-se ir, de abandonar a esperança, o sonho. De deixar de continuar insistindo em algo que claramente não vai funcionar, não vai ser realizador, não vai gerar belos frutos, mas apenas frutos podres da insistência.

O segundo caso é aquele em que o maior apelo não está nos problemas para os quais estejamos virando as costas, mas sim para o canto da sereia que se apresenta, a grande possibilidade de agora sim acertar, de ser (ainda) mais feliz, de se realizar. Neste segundo cenário, o que fala alto no coração de quem vai é mais o destino para o qual se ruma, muito mais do que o local de onde se parte, que perdeu importância não necessariamente por ser ruim, incompleto ou indesejado, mas apenas por não ter mais o apelo do novo, o frescor, e as intensas possibilidades que agora se apresentam na forma de novidade.

Finalmente, temos o caso em que não há uma grande motivação nem de sair e nem em ficar, as coisas são como sempre foram. Não há grandes emoções lá fora e dentro, apesar de quentinho, é muito branco e preto, não há cores, não há motivação. E pode ser que esse cheiro de mofo, de velho, resgate esperanças adormecidas, sensações dormentes e faça com que o movimento se crie por necessidade de mudança, pura e simplesmente. Neste caso, muda-se para ver algo de diferente ainda que não se saiba o que. Vale tanto descobrir um atrativo externo quanto, com a mudança, resgatar as cores já desbotadas do que se deixou.

E há claro, combinações de tudo isso. Mas, em todos os casos, há sempre uma história que fica para trás. E para quem é abandonado? Para quem ainda sonhava com a concretização dos planos, com os projetos em construção, com a formação de um ideal. Para estes, a decisão sempre soa arbitrária, solitária, egoísta. Sempre parece que seria possível insistir um pouco mais, que as coisas não são tão ruins quanto parecem, que há um exagero, que não se reconhece as coisas boas que também (sempre) existem.

É mais difícil ter empatia quando se é deixado. Mas deve-se acreditar que um abandono ensina muito e aprender com isso, aprender que temos que estar atentos ao outro, aos sinais de desgaste deixados pelo caminho, como migalhas. Devemos estar atentos pois estamos longe de ser perfeitos e, o que é mais triste, somos ainda mais imperfeitos sem quem vai. Mas devemos, acima de tudo, aprender a respeitar e admirar quem esteve conosco e nos ajudou a caminhar. Se foram apenas 8 meses, 8 ou 80 anos, não importa. Que sigam seus caminhos e sejam cada dia mais felizes. E, antes de mais nada, obrigado pelo tempo que passaram aqui conosco.

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