Temos que viver nossos sonhos…

Amanda Palmer, esposa do genial escritor Neil Gaiman, é uma artista musical. No vídeo abaixo, uma palestra pela iniciativa Ted Talks de 13 minutos e 48 segundos ela narra um trecho de sua trajetória artística. Infelizmente não consegui achar o vídeo com legendas em português. Trata-se de um vídeo motivacional forte, interessante e até emocionante. Vou tentar resumi-lo abaixo. Temos que viver nossos sonhos…

Amanda inicia a palestra relatando sua primeira experiência de trabalho, após a graduação, como estátua-viva. É lindo ouvi-la contar como quase apaixonavam-se, ela e pessoas solitárias que passavam por ela, desconhecidos que talvez falassem com ninguém há dias.  Um contato visual intenso, a oferta de uma flor, pequenos gestos de atenção. Obrigado, eu te vejo. Obrigado, ninguém geralmente me vê.  Se alguém gritava, ao passar de carro, “Arrume um emprego”, ela pensava “mas esse é meu emprego”. O dinheiro entrava de maneira regular – ainda que não houvessem clientes regulares e, assim, ela conseguia sustentar-se enquanto se apresentava, com sua banda, pelos bares noturnos da cidade.

Chegou um momento em que os ganhos de sua banda, Dresden Dolls, já conseguia fazer com que ela não precisasse mais ser uma estátua-viva.  Mas ela gostava dessa conexão direta com as pessoas. Era comum, ao final dos shows, interações diretas com o seu público. Com o advento do twitter, as interações eram ainda mais próximas: ensaiava no piano de algum fã da cidade onde se apresentaria, outros fãs levavam salgadinhos para comerem antes ou após os concertos, outros artistas apresentavam-se antes na entrada das casas noturnas e coletavam dinheiros no chapéu, e assim por diante. Ela também é adepta do couch surfing, hospendando-se em casas de fãs durante suas viagens pela turnê. Uma dessas histórias de “proximidade aleatória”, como ela define, é tocante. Uma família de imigrantes (ilegais) hondurenhos hospedam-na. A filha tem que dormir com a mãe para que ela tenha uma cama. À noite, um pensamento a assola: “essas pessoas tem tão pouco, isso é justo?”. Na manhã seguinte, a resposta, a mãe está preparando tortillas para o café da manhã, chama Amanda de lado e agradece: “Obrigado por ficar aqui, sua música ajudou muito a minha filha. Somos muito gratos a você”. Conexão direta. É justo, não mais estátuas mas ainda vivas.

A vida segue, a banda de Amanda, que faz um som considerado uma mistura de punk e cabaret, seja lá o que isso significa, ganha destaque e assina com uma grande gravadora. O primeiro CD é lançado e vende cerca de 25.000 cópias. A gravadora considera um fracasso, as vendas começaram a cair, o contrato não é renovado. Por outro lado, fãs começam a pagar pelo CD diretamente a Amanda, nos shows, dizendo que copiaram o CD de um amigo e querem pagar por ele diretamente a ela. Esse movimento inicia nela uma vontade de oferecer sua música “gratuitamente” mas pedir ajuda às pessoas para continuar fazendo música.

Ela monta um projeto de financiamento coletivo (crowd funding) para levantar 100 mil dólares para a gravação de um novo álbum. Os fãs, através de suas doações, fazem-na acumular praticamente 1.2 milhão. E a ironia de tudo isso, o número de pessoas que contribuíram é, praticamente, de 25.000 pessoas – o mesmo número de pessoas que haviam comprado os CDs da gravadora. Á pergunta “como é que você fez para que tanta gente pagasse para você fazer música” ela responde “eu não fiz nada, eu apenas pedi. Quando você se conecta com as pessoas, as pessoas querem ajudá-lo”. Confiar nas pessoas ao invés de apenas ver os riscos. Ao final de um show em Berlim, Amanda despiu-se e deixou a audiência “grafitar” seu corpo. “Eu confio em vocês tanto assim”, diz ela. Temos que viver nossos sonhos, temos que viver segundo o que acreditamos, temos que dar passos, agir.

Mas, será que todas essas coisas só existem em filmes de Hollywood e nas palestras do TED? Ou será que também acontecem na vida real, com a gente, com os nossos amigos e familiares? Pois é, Amanda Palmer pode estar mais perto do que pensamos. Tenho uma grande amiga, talvez uma das pessoas que melhor me conhece, que passou nos últimos 6 meses por uma trajetória fantástica e transformadora. Ela sonhou, ela enxergou um caminho e ela deu um primeiro passo, seguido pelo segundo e, hoje, chegou exatamente no destino traçado. E foi rápido. E é assim quando decidimos viver nossos sonhos.

Ela é funcionária pública. Por um tempo, como acontece com tantos, acomodou-se. Ainda que afastada de sua área de atuação original, o Direito. Mas, em um momento, notou que queria mais. Coincidência (?), um juiz do interior solicita à capital alguém com formação em direito para atuar, provisoriamente, como seu auxiliar numa cidade do interior do estado. Ela candidata-se e vê-se, rapidamente, instalada em uma cidade pequena, pacata e distante do conforto do seu lar, da sua família, dos seus amados bichinhos de estimação. Descobre uma vida que não sonhava encontrar. Pessoas interessantes, novas conexões, um enorme aprendizado, uma nova vida. Dali surge oportunidade de trabalhar com um outro juiz, em outra cidade. Novos contatos, novas experiências, muito mais aprendizado.

O plano original ao qual ela lançara-se, candidatando-se ao posto temporário, era ganhar contatos, ganhar experiência atuando como assessora para garimpar, quando de volta à capital, um cargo como assessora em sua própria cidade. Coincidência (?), justamente quando do seu retorno, surge uma vaga de assessora. Ela candidata-se, faz a prova, faz a entrevista. Mas uma das concorrentes possui mais de 10 anos de experiência. O que serão seus nem 6 meses contra alguém que possui o equivalente a vinte vezes esse tempo!? Bem, surpresa ou não, foi ela a escolhida para o cargo. Qual o seu diferencial? Garra. Vontade. Interesse. Explicitados, claramente, em sua decisão, aparentemente repentina, de ir para o interior, de estar disposta de sair da zona de conforto, para aprender, experimentar, lutar por seus sonhos. De um lado, alguém provavelmente acomodado, talvez já viciado em rotinas. De outro, alguém mostrando garra, força de vontade e uma mente totalmente aberta. Temos que viver nossos sonhos e dar passos para vê-los transformados em realidade. E seguir sonhando, e seguir lutando, e seguir vivendo. Vida é movimento. Você é um orgulho! E agora é isso, mire ainda mais alto pois você pode tudo! E seu coração e interesse real pelas pessoas é de fazer Amanda Palmer também orgulhar-se.

0 Seja o primeiro a curtir esse farelo

Esfarelado