Zumbilândia

Zumbilândia

Filmes que misturam diversos gêneros geralmente fracassam ao construir bons enredos. Isso se dá pois há a necessidade de saltar entre as situações que devem provocar risos, suspense ou medo, o que é, naturalmente, desafiador. Zumbilândia (Zombieland, 2009, dirigido por Ruben Fleischer), um road-movie cômico ambientado em um apocalipse zumbi, é uma agradável exceção a essa regra.

Sim, Zumbilândia é extremamente divertido, explora muito bem um roteiro cheio de referências ao universo pop, faz rir, traz até elementos de comédia romântica e é uma boa aventura. Como em todo bom road-movie a viagem importa mais do que o destino, mas o que dizer de um filme em que o destino para o qual rumam os personagens é  um parque de diversões em Los Angeles?

O filme utiliza muito bem a narração em off do protagonista, Columbus (Jesse Eisenberg, que viveu Mark Zuckenberg em A Rede Social), para apresentar as suas regras de sobrevivência em um mundo tomado por zumbis e, ao mesmo tempo, introduzir muito de sua personalidade tímida e solitária. Columbus conhece Tallahassee (Woody Harrelson, ator de Jogos Vorazes, 2012, Amizade Colorida entre vários outros), que vem se dedicando com eficiência à arte de matar zumbis. Juntos eles seguem rumando para tentar encontrar os pais de Columbus. No trajeto se encontram com as irmãs golpistas Wichita (Emma Stone, a Gwen Stacy do remake do Homem-Aranha) e Little Rock (Abigail Breslin, a eterna Miss Sunshine) e seguem viagem para o tal parque de diversões acima mencionado.

Se eu quisesse rumar para uma análise mais séria  aproveitaria o fato de os personagens se identificarem através do nome de suas cidades natais para indicar que o pano de fundo da trama é justamente a dificuldade de todos eles em confiar no próximo e a paradoxal vontade, por vezes até inconsciente, de construir uma família. Mas, apesar de desenvolver bem sua sub-trama dramática (olha mais um gênero aí) e possibilitar vermos o surgimento dessa confiança entre os personagens, Zumbilândia não se presta a maiores aprofundamentos e sua força está, justamente, em não se levar a sério.

Dessa forma é muito melhor aproveitar o que ele tem de melhor a oferecer: a irreverência das tais regras – que incluem um hilário “tenha cuidado ao ir ao banheiro”, a obsessão de Tallahassee por encontrar um Twinkie (uma espécie de bolinho) antes que todos eles tenham sua data de validade expirada e a participação mais do que especial de Bill Murray interpretando a si mesmo em uma sequencia especialmente inspirada do filme – com direito a homenagens a Caça-Fantasmas e Garfield. Essa sequencia já tem inicio com bastante irreverência, quando os personagens decidem pernoitar em Hollywood e, obviamente, decidem fazê-lo em grande estilo, escolhendo a casa do astro como hospedagem, e termina de maneira absolutamente inusitada com a impagável citação à participação de Murray em Garfield. É de chorar de rir.

O gênero “filmes de zumbi” rendeu bons filmes nos anos 2000 e Zumbilândia está, junto com Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004, dirigido por Zack Snyder) e Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004, dirigido por Edgar Wright), no top 3 de melhores filmes deste subgênero. Regras existem para serem subvertidas, como diz Columbus em um determinado momento do filme. E isso também vale para o próprio filme, que com muito bom humor diverte, envolve e ainda serve de manual de sobrevivência para quando os zumbis vierem.

Publicado originalmente aqui.

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