O Hobbit 2 – A Desolação de Smaug

O Hobbit 2 – A Desolação de Smaug

Para começar 2014 decidi falar do segundo volume da trilogia Hobbit: A Desolação de Smaug (The Desolation of Smaug, 2013, dirigido por Peter Jackson). Para muitos, tratava-se da película mais aguardada do ano! Não era o meu caso e, ainda assim, sai decepcionado do cinema e vou tentar colocar aqui alguns pontos que me levaram a esse sentimento de frustração.

Segundos volumes de trilogias costumam passar por um dilema pois narram o meio da história, isto é, não tem a obrigação nem de apresentar os personagens e o enredo e nem de concluir a narrativa. O próprio As Duas Torres, segundo volume da trilogia O Senhor dos Anéis, sofria exatamente desse mal sendo o menos lembrado (e o mais fraco, a bem da verdade) da trilogia original. Por outro lado, há espaço para desenvolver o que já foi consolidado e deixar o espectador ansioso e cheio de expectativas pelo desfecho da história, como no caso de O Império Contra-Ataca.

Uma crítica que a adaptação cinematográfica de O Hobbit vem sofrendo refere-se justamente ao fato de ser uma trilogia e, ainda por cima, de filmes de quase três horas de duração. É uma crítica justa, já que o material original não comportaria uma obra dessa magnitude. O diretor e co-roteirista Peter Jackson viu aqui a oportunidade de resgatar a Terra-Média – que tão bem fez à sua carreira – e repetir o sucesso do Senhor dos Anéis aproveitando-se ainda para narrar os fatos que precederam aquela obra, buscando assim apresentar ligações para criar um pano de fundo ainda mais amplo para a saga de Frodo e da Sociedade do Anel.

Essas decisões de Jackson poderiam ter dado certo se os enxertos que ele precisava fazer para acomodar o prelúdio à “trilogia original” ajudassem a encorpar a própria história do Hobbit e, além disso, fossem de fato interessantes para contextualizar os três filmes da década passada. Porém ele não foi bem sucedido nem em uma coisa e nem na outra. Vários dos fatos que servem para amarrar as duas tramas mais atrapalham do que ajudam (e as descobertas de Gandalf neste segundo volume são injustificáveis ou ele teve amnésia entre os fatos daqui e de lá) e, ao trazer o clima mais denso de O Senhor dos Anéis para o infanto-juvenil O Hobbit, os anões, dragões, homens-urso e tudo o mais ganham uma “adultização” que não combina com Radagast e seus pássaros-no-chapéu, dentre vários outros elementos conflitantes.

Pois bem, atendo-se apenas ao filme em si podemos analisa-lo de diversas formas diferentes. Pensemos sobre a narrativa que pode ser resumida como os anões e Bilbo passando por vários perigos em direção até a Montanha Solitária (Erebor), onde finalmente chegam e acordam Smaug. Evidentemente, o filme se foca nos “vários perigos” e é, assim, um filme de aventura e, como tal, é até decente, com bons efeitos especiais (exceto por Beorn, Deus meu!), boa cenografia (a cidade do Lago e todo o espaço interno da montanha – que lembra o caixa-forte do Tio Patinhas, são fantásticos), excelente direção de arte… e ainda por cima se passa na Terra-Média, o que o torna ainda mais especial.

Desta forma, acompanhamos a passagem dos personagens pela casa de Beorn, pela floresta élfica onde encontram aranhas gigantes e depois são resgatados e aprisionados por elfos, de onde fogem em barris até chegarem à morada de Bard, na cidade do Lago, de onde finalmente alcançam a Montanha onde o carismático Smaug, um típico vilão falastrão à la 007 ou Scooby Doo, dorme sob sua fortuna tomada. E é isso. O filme foi feito para os fãs de Tolkien e, ainda mais especificamente, para aqueles que vão gostar de qualquer história que se passe na Terra-Média, já que é isso que realmente importa. Pois se olharmos para o que realmente está sendo contado aqui, isto é, a trama do filme, a profundidade dos personagens e suas motivações e a verossimilhança das situações, (quase) tudo cai por terra. E só coloquei “quase” pois Gandalf é sempre um personagem que parece saber mais do que diz e rouba todas as (poucas) cenas em que aparece e Bilbo finalmente possui presença e importância para justificar seu nome no alto dos cartazes. De resto, um monte de bobagens juntas, frases de efeito mal encaixadas, motivações estapafúrdias, muita (mas muita!!) enrolação e, para piorar, a inserção de um triângulo amoroso absolutamente desnecessário, entre o anão Kili, a bela elfa Tauriel e Legolas. Nem Gandalf teve paciência e preferiu ir descobrir quem é quem na terra do Necromante… É, mas isso também é “para piorar”…

Publicado originalmente aqui.

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