Star Wars I – A Ameaça Fantasma
O texto dessa semana é sobre Star Wars – Episódio I – A Ameaça Fantasma (Star Wars, The Phanton Menace, 1999, dirigido por George Lucas) e nas próximas colunas – provavelmente não de maneira consecutiva – cobrirei os outros 5 filmes da fantástica saga Guerra nas Estrelas no cinema. Vou procurar fazê-lo usando o mínimo de conhecimento prévio, isto é, analisando os filmes em progressão e tentando usar apenas o que foi transmitido pelos próprios filmes até o episódio em questão. Portanto, inicio a análise deste Episódio I como se nunca tivesse havido a trilogia original e eu não fizesse ideia de que o menino Anakin será um dia Darth Vader – é, acho que não preciso avisar que os textos conterão spoilers, né?
Um mestre e um aprendiz, Jedi e Sith, os dois lados da Força. E aquele que virá para trazer equilíbrio. De certa forma, o roteiro deste primeiro episódio é muito bem amarrado, apresentando o personagem que ocupará papel central na narrativa ao longo dos episódios: Anakin Skywalker. E o título do filme é esperto ao nos induzir a ver a tal ameaça fantasma apenas como o Lord Sith – que apresenta-se sempre em forma de holograma – mas deixa também em aberto o subtexto da ameaça invisível que cerca o destino do jovem garoto. Nebuloso é a palavra usada por Mestre Yoda para descrever como o futuro de Anakin lhe parece. Mas qualquer um que vê o olhar de ódio, raiva e indignação do menino toda vez que o Conselho Jedi nega-lhe algo percebe que dali dá para se esperar um rancorzinho digno do Lado Negro…
O fio condutor da história é a trama política envolvendo a Federação, que impôs uma barreira comercial ao planeta Naboo. A rainha Amidala, dos Naboo, tenta resolver a situação diplomaticamente através do Senado da República junto do seu representante, o Senador Palpatine. Qui-Gon Jinn e seu padawan (aprendiz) Obi-Wan Kenobi, dois cavaleiros Jedi, são enviados para negociarem com a Federação em nome do Senado, mas acabam sendo atacados ao mesmo tempo em que a Federação invade Naboo com um exército de dróides. Os dois jedi refugiam-se em Naboo, resgatam a rainha e sua comitiva, além do nativo Jar Jar Binks. Na rota de fuga, caem no planeta Tatooine com a nave avariada e conhecem o menino-escravo Anakin Skywalker, que trabalha para um mercador que dispõe das peças necessárias para reparar a nave.
É aqui que ocorre o ponto-chave do filme. O garoto é identificado por Jinn como um ponto focal da Força (suas medições de midi-chlorians são superiores à do Mestre Yoda! Mais de 20.000, seja lá o que isso signifique). Mais do que isso, não há pai. Ele foi concebido “divinamente” ou “messianicamente”, numa comparação inevitável à figura de Cristo. E há ainda a Profecia que diz que nessas condições virá aquele que vai trazer o equilíbrio à Força. Como é mencionado no filme que os midi-chlorians podem tê-lo concebido podemos ver a Força como o Universo, transformando os Jedi em panteístas.
Através de uma aposta que desconhece, Skywalker vence uma corrida de pods (ou 15 minutos de filme para vender videogame) e consegue sua própria liberdade, partindo dali para salvar o dia ao final do filme, destruindo a nave que controlava os dróides e vencendo a batalha para os Naboo, mostrando toda sua perícia como piloto. A propósito, os engenheiros da Federação não conhecem o conceito de Ponto Único de Falha (SPoF)… Todos os dróides param ao mesmo tempo através de um ataque focado em um único ponto! A estratégia de contra-ataque da rainha Amidala, elogiada por Qui-Gon Jinn, era na verdade bastante óbvia!
A propósito, o filme é hábil em construir alguns bons personagens: Qui-Gon, Darth Maul, Amidala e até o secundário antagonista na corrida de pods, Sebulba Vigarista! Mas, em compensação, tem um Jar Jar Binks para todos derrubar, um herói que cumpre papel importante na história ao ajudar a recrutar um exército nativo em Naboo para contrapor os dróides, mas que é infantilizado demais, atrapalhado, patético. Temos ainda R2-D2 que aparece e já tem papel importante na trama enquanto C-3PO é apenas apresentado – com a novidade de ter sido construído por Anakin.
Qui-Gon (Liam Neeson) é o personagem principal do filme. O mestre de Obi-Wan (Ewan McGregor), homem íntegro e que luta por seus valores, que não hesita em contrariar o poderoso Conselho Jedi para seguir seus instintos, responsável por libertar Anakin (Jake Lloyd) e por identificar nele o Messias da profecia dos Jedi. É sofrido vê-lo morrer pelas mãos de Darth Maul (Ray Park), no belo duelo com o sabre-duplo do lord Sith. Mas era necessário para marcar o amadurecimento de Obi-Wan e a força de sua ligação com Skywalker.
Além de Binks outro ponto fraco do filme é a interpretação do menino Lloyd. A cena em que ele aceita ir com Qui-Gon para, pouco depois, lembrar-se de que isso poderia significar afastar-se de sua mãe é um exemplo disso… além das já mencionadas caras-feias para o Conselho Jedi e a cena no funeral de Qui-Gon, em que ele ainda é prejudicado pelo roteiro ao ter que dizer, em um momento de dor e tristeza, a egoísta “E a minha situação, como é que fica?”.
Palpatine (Ian McDiarmid) é eleito Chanceler Supremo da República, conforme seu plano e manipulação da rainha Amidala (Natalie Portman). E George Lucas, nada sutilmente, fecha a câmera nele quando Mace Windu (Samuel L. Jackson) pergunta: “Os Sith são sempre uma dupla. Um mestre e um aprendiz. Agora resta saber se quem foi destruído foi o mestre ou o aprendiz”. Agora me pergunto, porque os Sith são apenas dois? Por que não poderiam se organizar em um grupo maior? E porque há o Conselho Jedi se Yoda acaba decidindo, sozinho, que Anakin pode ser padawan de Obi-Wan – numa clara inversão da decisão inicial que ele apresentara ao novo Cavaleiro Jedi.
No quesito curiosidades, é divertido ver os ETs do filme de Spielberg e os Chewbaccas na cena que se passa no Senado! E o prêmio “nome-mais-bizarramente-divertido-do-filme” vai, com sobras, para o Capitão Panaka.
Publicado originalmente aqui.
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